- TEXTO ESCRITO E PUBLICADO ORIGINALMENTE EM JULHO DE 2012, NA MINHA EXTINTA COLUNA SEMANAL NO SITE DA JORNALISTA ANNA RAMALHO.
Sem nenhuma expectativa, eu decidi rever a nova versão de “Conan – O Bárbaro”, dirigida pelo Marcus Nispel.
Eu poderia ficar aqui discutindo aspectos técnicos e artísticos, mas como discutir estes elementos em um produto tão fraco? Sinto-me mais confortável em discutir o valor que ele somou nas bilheterias mundiais, pois a única coisa que parece importar nesta experiência é se a soma destes valores foi recompensada pela “diversão e entretenimento” que o produto deveria ter me proporcionado.
A resposta é um sonoro NÃO! A indústria cinematográfica norte-americana está passando uma de suas piores fases (talvez a pior), com o já desgastado filão de adaptações de quadrinhos e refilmagens absurdas.
A indústria cinematográfica (como todas as indústrias) visa prioritariamente o lucro financeiro. O avanço da internet está causando o mesmo mal que a ascensão da televisão na década de 50, com os produtores de cinema precisando tomar medidas desesperadas para chamarem a atenção do público.
Os adultos (a partir dos 45 anos) que nas décadas de 30 e 40 lotavam as salas, hoje preferem o conforto de seus apartamentos com ar refrigerado. A tela do computador lhes oferece as mais variadas fontes de diversão, inclusive cinematográfica. Os roteiros que outrora eram elaborados para o público adulto, hoje são exceção na indústria norte-americana.
Os jovens possuem a disposição de, mesmo com variadas opções em casa, caminharem até a sala de cinema mais próxima e encontrarem diversão. Os produtores decidem então trabalhar para estes jovens. Resultado: roteiros criados sem muito esmero (visível), produtores preguiçosos até mesmo na hora de divulgarem o produto, pois pegam carona em franquias já estabelecidas do passado. O que se perde neste processo, caso analisemos a questão visando consequências em longo prazo?
Enquanto você pensa na resposta à minha pergunta, volto aos meus questionamentos iniciais. O “Conan – O Bárbaro” de 1982 era imperfeito, mas audacioso. Oliver Stone trabalhou no roteiro, que se mantinha fiel a vários elementos da obra de Robert E. Howard, realizando pequenos ajustes (como tornar o protagonista menos inteligente, substituindo sua estratégia com a força bruta), mas respeitando acima de tudo a inteligência do público.
A direção eficiente de John Milius criou momentos emocionantes, auxiliado por uma trilha sonora impecável (obra-prima no gênero) do fantástico Basil Poledouris. Um ótimo filme de aventura, com um protagonista carismático e um roteiro simples e eficiente.
Caso vivêssemos em um mundo justo, ao invés desta refilmagem desnecessária, hoje em dia estaríamos presenciando o relançamento da obra original nos cinemas, em uma versão remasterizada (ou até mesmo com a adição de cenas inéditas) e com direito a total atenção da mídia especializada. Mas em uma sociedade que não valoriza a velhice e considera tudo substituível, eu não me surpreenderia se até mesmo “Ben-Hur” fosse refilmado, com a corrida de quadrigas em indisfarçável CGI e com Zac Efron no papel principal.
Ô rapazinho, o “Ben-Hur” de 1959 foi uma refilmagem de um filme mudo de 1925, com a corrida de quadrigas sendo recriada utilizando todas as técnicas que a época oferecia. Por que o mesmo não poderia acontecer hoje em dia? Por que você não reclama da refilmagem de 1959?
(lado esquerdo do meu cérebro)
Existe muito mérito em revisitar filmes antigos e recriá-los, seja com uma nova abordagem ou um novo estilo. Gus Van Sant é um perfeito exemplo da refilmagem desnecessária, pois refez “Psicose” seguindo exatamente o mesmo roteiro e enquadramentos do original de Hitchcock, adicionando apenas uma incrivelmente estúpida cena. Por outro lado, temos Tim Burton, que em “A Fantástica Fábrica de Chocolates” ignorou toda a ternura que havia no original, focando-se apenas na obra literária de Roald Dahl. Mesmo preferindo o filme da década de 70, não posso tirar o mérito de Burton, que utilizou a refilmagem de maneira bastante criativa e com um real propósito.
Levando em consideração o crescimento expressivo de produções “jovens” já sendo refilmadas (como “Conan” e “Footloose”, com cerca de duas décadas de idade) e até mesmo algumas que mal saíram do berçário e já são recicladas (como o “Homem-Aranha” de Marc Webb), visualizo um futuro em que o cinema seja dispensável, com as mídias alternativas evoluindo cada vez mais e a sétima arte se tornando uma relíquia que alguns poucos enxergam o valor.
A mediocridade que hoje polui nossa música e nossa programação televisiva não encontrará resistência em um público já tão acostumado com o lixo, que não nota seu fétido odor. Os livros, queimados tal qual em “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, por serem “politicamente incorretos” ou qualquer expressão futura que simbolize (e justifique) a criminosa censura.
Ô rapazinho, não seja tão pessimista, o público não é burro. Você sinceramente acredita que a mediocridade reinará no futuro? O brilho no olhar de uma criança que adentra pela primeira vez uma livraria me impede de pensar desta forma. A paixão com que um grupo de amigos se reúne para discutir acerca de um bom filme e as lágrimas que vertem no rosto de um adulto após assistir a pérolas como “A Felicidade não se Compra”, sintomas de que existe a esperança. A arte vencerá a mediocridade, como Chaplin sorrindo quando tudo o leva a chorar…
(lado direito do meu cérebro)
Checo o horário no relógio do meu computador e me surpreendo ao constatar que já passam das quatro da manhã. Percebo com um sorriso o quanto sou ingênuo em cogitar este futuro pessimista. A minha madrugada trabalhando neste texto me prova o quanto acredito em nossa sociedade, que tal qual uma criança peralta, precisa levar umas broncas de vez em quando, mas que pode nos surpreender com atos de pura bondade.
Na batalha entre os dois lados do meu cérebro (racional e emocional), venceu novamente a ESPERANÇA.