Tarde Demais Para Esquecer (An Affair to Remember – 1957)
Um homem (Cary Grant) e uma mulher (Deborah Kerr) vivem um romance enquanto estão em um cruzeiro que parte da Europa com destino à cidade de Nova York. Apesar de serem noivos de outras pessoas, ambos concordam em se reunir no topo do Empire State Building em seis meses.
- Eu tentei não revelar muito sobre a trama, para preservar a experiência de quem ainda não conhece a obra.
Eu escutei a linda música-tema em algum LP de coletânea de trilhas na infância, uma versão muito bonita, este foi o meu primeiro contato com a obra, que acabei alugando anos depois e copiando na velocidade SP em VHS, para manter a qualidade da imagem.
As fotos para a preparação do estojo foram cuidadosamente retiradas de revistas, algo que eu fazia com frequência, garantindo uma filmoteca padronizada. E, sim, eu era o único pré-adolescente apaixonado por cinema clássico na escola, logo, quando citei “Tarde Demais Para Esquecer” em uma aula de Redação, a professora provavelmente achou que eu era um alienígena.
O diretor Leo McCarey foi convencido por Cary Grant a refilmar o seu próprio sucesso, “Duas Vidas” (Love Affair – 1939), sem grandes modificações no roteiro, já que o ator havia gostado bastante do original, ele chegou a afirmar que desejava o papel que acabou sendo defendido por Charles Boyer.
O preto e branco charmoso seria substituído pelo vibrante Technicolor, valorizado na proporção de tela Cinemascope. No lugar de Irene Dunne, ele escalou Deborah Kerr.
O amor nobre e incondicional move a trama, que toca o coração em sua simplicidade e, principalmente no inesquecível desfecho, faz verter um rio de lágrimas. Um sentimento que é despertado na mais improvável das situações.
O solteirão cobiçado vivido por Grant é apresentado pela ótica da imprensa mundial, um bon vivant que parece ter sido fisgado por uma dama da sociedade que herdou uma fortuna. Mais um relacionamento de fachada, posado para os flashes das colunas sociais.
Ele é caçado no cruzeiro por um jovem mensageiro, e, destacado no enquadramento, descendo uma escada (a simbologia é clara, como um ser divino que atende aos apelos do povo), finalmente revela seu rosto. Três senhoras pedem seu autógrafo, mas os seus olhos sinalizam apatia, total desprezo por aquela teatralidade.
O espectador descobre então que há um conflito interno naquele homem, entre a sua essência genuína e a imagem que ele se sente obrigado a manter para alimentar a opinião pública. O terreno se mostra fértil, a esperança de uma nova chance na vida eclode na forma de uma bela ruiva, uma estranha espirituosa que, em um gesto gentil, busca devolver uma cigarreira.
Ele fica imediatamente fascinado com o senso de humor e a atitude decidida da mulher, mas o destino estava traçando algo muito mais complexo do que suas costumeiras aventuras românticas. A maneira como o roteiro trabalha a drástica reviravolta emocional que impede o aguardado reencontro e suas consequências psicológicas nos dois é brilhante.
A bonita história seria homenageada na década de 90 em “Sintonia de Amor”, de Nora Ephron, e oficialmente refilmada (novamente) em “Love Affair – Segredos do Coração”, de Glenn Gordon Caron, mas a elegante versão de 1957 segue sendo lembrada com muito carinho pelo público.
Um tesouro romântico de pura delicadeza que só melhora a cada revisão.
Música-tema composta por Harry Warren, Leo McCarey e Harold Adamson, cantada por Vic Damone:
Trailer: