No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Rua das Lágrimas (Die Freudlose Gasse – 1925)
Duas mulheres nem imaginavam, mas teriam seus destinos completamente mudados por acasos do destino. Vivendo com dificuldade na tumultuada capital da Áustria afetada grandemente pela Primeira Guerra Mundial, uma delas acaba se tornando mulher da vida e a outra por sorte é salva pelo amor de um americano da Cruz Vermelha.
Nas poucas vezes em que este FILMAÇO da era silenciosa é lembrado, a participação de Greta Garbo é sempre incensada, o seu último trabalho europeu antes de ser contratada pela MGM, mas gosto bastante da atuação da dinamarquesa Asta Nielsen, uma estrela muito querida à época, infelizmente esquecida hoje. Caso você queira conhecer seu trabalho, indico “Das Liebes-ABC” (1916), “Afgrunden” (1910), “Den Sorte Drøm” (1911) e “Mod Lyset” (1919), pérolas que você encontra com facilidade na internet.
“Rua das Lágrimas” é considerado o primeiro trabalho com características do movimento artístico alemão neuen sachlichkeit (nova objetividade), ao lado de “Variedades”, com Emil Jannings, lançado no mesmo ano. LEIA MEU TEXTO SOBRE “VARIEDADES” (1925) CLICANDO AQUI. Esta resposta ao expressionismo era calcada na fiel representação da sociedade Vienense pós-guerra, a realidade sombria e desesperançada da crise moral de um coletivo em busca de dinheiro fácil.
A proposta corajosa do diretor incomodou o governo, a obra foi absurdamente censurada, acabou se tornando praticamente incompreensível. O roteiro adapta o livro homônimo de Hugo Bettauer, jornalista austríaco que foi brutalmente eliminado no ano de lançamento do filme por causa de sua oposição ao antissemitismo.
- Você encontra com facilidade na internet a versão reconstruída do filme, acompanhada por uma trilha sonora para piano, violino e violoncelo de Aljoscha Zimmermann, o mais próximo possível da obra original, com 2h e 30m de duração.