Satyricon (Fellini Satyricon – 1969)
Baseado na obra homônima de Petrônio, Satyricon apresenta o jovem Encolpio, que ressente pela perda de seu amante, Gitone, pelas mãos de seu melhor amigo, Ascilto. Após descobrir que Ascilto vendeu Gitone para o ator Vernacchio como escravo, Encolpio inicia a sua busca por ele.
O primeiro problema ao encarar essa obra é buscar nela alguma mensagem oculta, algum sentido maior, uma trama no sentido convencional. “Satyricon” é, acima de tudo, um exercício de estilo que se utiliza da estrutura fragmentada do que restou da obra original de Petrônio, escrita por volta do ano 60 d.C., para compor um olhar extasiado sobre a Roma antiga.
Fellini, como um documentarista que descobre uma civilização mitológica esquecida pelo tempo, deslumbrado com o exotismo dessa terra estranha, faz o que é comum a todo ser humano, busca traçar paralelos entre eles e nós, criando uma espécie de ficção científica ambientada no passado. O traço exagerado, caricatural, o sempre celebrado toque felliniano, nunca foi utilizado de forma tão coerente com o tema.
No auge do movimento hippie, enxergamos nos jovens do filme os mesmos instintos de rebeldia e compulsão pela satisfação imediatista. Esta abordagem original, como em tudo que é movido pelo novo, corre riscos, erra e acerta, não é uma unanimidade entre os fãs do diretor. A atuação do elenco é quase bressoniana, com os atores reagindo timidamente aos comandos que o diretor ditava ao lado da câmera.
Além disso, para reforçar o senso de estranheza, não há muito sincronismo com relação à dublagem para o italiano, um toque genial do diretor, evidenciando que o interesse está no distanciamento, no antinatural, o que acaba enfatizando aqueles seres como alienígenas em uma terra inexplorada.
É impressionante perceber como a indústria de cinema atual, em comparação com esta experiência, está apática e preguiçosa.