Artista do Desastre (The Disaster Artist – 2017)
Você pode não conhecer Tommy Wiseau, mas seu filme “The Room”, apesar de ser horroroso em todos os aspectos, segue lotando salas de cinema nos Estados Unidos em sessões de meia-noite, com fãs que interagem minuto a minuto com os acontecimentos, algo similar ao que ocorre com o clássico “The Rocky Horror Picture Show”.
O diretor James Franco, que também protagoniza, emulando com perfeição a voz e os maneirismos do homenageado, injeta leveza e audácia no roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, adaptado do livro homônimo escrito por Greg Sestero e Tom Bissell, que alterna capítulos focados no impacto de Wiseau na vida de Sestero, seu colega de teatro, e, os mais interessantes, focados na caótica rotina de filmagens.
O filme poderia ter dedicado mais tempo aos absurdos hilários ocorridos com a equipe, já que o relacionamento dos amigos é, apesar de esquisito, a reutilização do clichê dos sonhadores que abandonam tudo na busca por seus objetivos. Greg, vivido por Dave Franco, o “carinha de bebê”, antítese do tipo grotesco que todos enxergam em Tommy, deseja vencer financeiramente na indústria de cinema, enquanto o colega, que parece nadar em dinheiro, quer apenas o reconhecimento artístico, ele leva profundamente a sério a arte.
Quando coloca na cabeça a ideia de provar seu talento produzindo/roteirizando/dirigindo e estrelando um filme, ao invés de continuar batendo nas portas dos agentes e recebendo sempre as mesmas respostas negativas, que o reduzem ao estereótipo que seu visual entrega, ele se empolga, perde o controle.
O roteiro, assim como o livro, acerta ao evitar um retrato humilhante, mesmo quando as suas atitudes em cena parecem não deixar outra escolha, por trás de cada piada, você consegue sentir o impulso genuíno de alguém que verdadeiramente acredita naquilo que diz e faz. A mesma dignidade de figuras como Ed Wood, a caricatura ambulante que claramente esconde muita mágoa e problemas psicológicos causados pela rejeição, elementos sempre insinuados, já que o tom é de comédia, e, vale destacar, muito eficiente.
É brilhante a ideia de iniciar o filme com depoimentos elogiosos de nomes relevantes e respeitados da indústria, como J.J. Abrams e Kevin Smith, uma declaração corajosa de que cinema não é só técnica, a autenticidade do criador pode cativar o público. “The Room” faz tudo errado, mas ele provoca reações. Os piores filmes do mundo são aqueles que causam indiferença.