George Lucas escolheu apresentar o personagem Obi-Wan Kenobi, vivido por Alec Guinness, em “Star Wars”, de 1977, como uma cambaleante figura escondida em seu manto, capaz de afastar a ameaça do povo da areia à distância, emulando o som de um predador, logo após termos presenciado o jovem herói Luke Skywalker ser derrotado facilmente por eles. Ao mostrar sua face, quando ele se dirige gentilmente ao robô, percebemos que se trata de um senhor de idade avançada, voz mansa, uma postura elegante demais para aquela região selvagem. É o sábio mentor mais velho, como trabalhado na Jornada do Herói de Joseph Campbell, o responsável por guiar o jovem em sua missão de amadurecimento.
É interessante contrastar com a apresentação do jovem Kenobi, vivido por Ewan McGregor, em “A Ameaça Fantasma”, de 1999, também como uma figura escondida em seu manto, aparentemente uma exata réplica de seu mentor Qui-Gon Jinn. Ao revelar seu rosto, com a utilização da frase símbolo: “Eu tenho um mau pressentimento quanto a isso”, ele demonstra extrema lucidez e coragem, já que confronta, com a mesma voz mansa, a tranquilidade de seu mestre com a certeza do perigo.
Ele é sensato ao respeitar a posição do mestre, porém, segundos depois, elabora questões que novamente afirmam sua preocupação. Kenobi, em sua versão jovem e adulta, é o símbolo da rebelde elegância, a representação mais perfeita do que simboliza, em essência, os Cavaleiros Jedi. Alguns textos afirmam que o personagem vai amadurecendo ao longo das prequels, porém, basta uma análise mais atenta, para enxergar que ele já se mostrava preparado desde a primeira cena, maduro o suficiente para, consciente dos deveres como aprendiz padawan, respeitar as decisões dos superiores, enquanto, com
delicadeza, os conduz a agirem exatamente como ele acredita ser melhor.
Anakin perde sua figura paterna, a mãe que é assassinada pelo povo da areia, ficando incapaz de controlar suas emoções. Kenobi perde sua figura paterna, o mestre Qui-Gon que perece na batalha com Darth Maul, reagindo ao trauma com compreensível impetuosidade, buscando a vingança imediatista, porém, exibindo total controle emocional, assumindo a tarefa do mestre.
Ele é o único personagem na saga que se mostra totalmente seguro com a Força, conseguindo manter o foco nas situações mais tensas, longe de qualquer remota possibilidade de sedução pelo Lado Negro.
* A Editora Aleph acaba de lançar o livro “Kenobi”, escrito por John Jackson Miller, revelando aventuras que o personagem viveu enquanto estava escondido em Tatooine.