Era Uma Vez um Pai (Chihi Ariki – 1942)
Um professor viúvo matricula o filho em um colégio interno, partindo para ganhar a vida em Tóquio. O amor entre pai e filho precisará resistir a esta separação.
Lançado logo após os ataques em Pearl Harbor, talvez esse seja o filme de Ozu com a narrativa mais simples, por conseguinte, terreno fértil para sua arte germinar. Existe uma aura de respeito que se faz notar nos pequenos momentos entre pai e filho, entre mestres e alunos.
O conceito que move a trama é lindo: o homem que sabe que precisa conseguir verba para manter seu filho na escola, pois apenas a educação faz uma pessoa evoluir. A ideia de redimir seu erro fazendo de seu filho alguém muito melhor do que ele havia sido. O subtexto da obediência como causadora de extrema dor, o sacrifício do afastamento como bússola moral e a figura do trem como elemento imagético que representa os laços familiares. Nenhum realizador dizia tanto com tamanha sutileza.
A emoção que nasce da silenciosa cena de pescaria, em que vemos Chishu Ryu e o pequeno Haruhiko Tsuda harmonicamente balançando várias vezes suas linhas em direção ao rio, somente é superada pela simbólica repetição da cena em um momento posterior, onde reencontramos Ryu e Shûji Sano (que vive o filho, quando adulto).
O rio é o mesmo e a água continua em constante movimento, ainda que os reflexos deles tenham modificado. A utilização recorrente das estupas budistas (como moldura na cena da pescaria, por exemplo) reforça o sentimento de paz e harmonia. Podemos encontrar também uma referência ao rito de purificação xintoísta pela água, o misogi, na cena em que pai e filho se banham juntos.
Mais para frente, o olhar moderno, acostumado ao ritmo frenético dos blockbusters, deixa cair uma lágrima ao presenciar a elegância da representação visual da morte como uma ausência, uma cadeira que estava ocupada minutos antes, mas que agora se mostra vazia.