Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name – 2017)
O jovem Elio está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.
Não há nada especificamente engenhoso que eleve o roteiro de James Ivory ao patamar de obra-prima que muitos estão alardeando, o filme de Luca Guadagnino, em essência, aborda o amor proibido entre um adolescente italiano (Timothée Chalamet) e um visitante norte-americano (Armie Hammer), colega mais velho do pai, no contexto repressor do início da década de oitenta.
O mérito está nos detalhes, na franqueza corajosa com que a trama trata o relacionamento, o despertar romântico com culpa, e, principalmente, na forma como os pais do jovem lidam com a experiência.
É interessante o contraste, elegantemente captado na fotografia do tailandês Sayombhu Mukdeeprom, entre o comportamento do casal no primeiro ato, servindo às exigências da sociedade e negando a natureza, e a liberdade que compartilham no terceiro ato, isolados da pressão dos conhecidos.
Na cena em que eles, após vencerem o medo, encaram a possibilidade do ato, a câmera se afasta e perdemos contato visual, típico momento em que se espera gemidos, o elemento proibido e provocador, algo relacionado à condição mais animalesca do ato, mas o que se escuta é a contagiante risada dos dois, a mesma atitude redentora que retorna inteligentemente nos créditos finais como forte revide para a frustração, decisão criativa preciosa que resume a maior qualidade da obra, o foco na cumplicidade que se estabelece aos poucos e de forma crível, o carinho que nasce de mãos dadas com o desejo.
As mãos, vale destacar, são a alma desta exploração interna pela verdade do indivíduo, perceba como os namorados expressam na gentileza do toque tudo o que não podem revelar. Enquanto alguns projetos similares se perdem no fetiche, ou tentam satisfazer sensorialmente com o choque, “Me Chame Pelo Seu Nome” apenas se dedica a contar uma linda história de amor.
O toque de brilhantismo, o monólogo do pai (Michael Stuhlbarg) do garoto ao final, texto que transborda humanismo e maturidade emocional, com destaque para o trecho em que ele salienta a necessidade de aproveitar a vida, enfatizando como a degradação do corpo é rápida, símbolo que rima com a utilização das esculturas nos créditos iniciais, a perfeição física retratada pelos artistas do passado, tentativa vã de imortalidade, analogia de extrema sensibilidade que dá o tom poético de uma obra muito bonita e, acima de tudo, fundamental nos dias hostis em que vivemos.