Edward Mãos de Tesoura (Edward Scissorhands – 1990)
Esta resenha será totalmente passional, posto que suas imagens e a bela trilha sonora de Danny Elfman me emocionam sobremaneira. Ele pertence a uma época em que Tim Burton ainda priorizava certas sutilezas, em que o estilo não se sobrepunha ao roteiro.
O intuito era emocionar, não chocar pelos excessos. As lágrimas que vertemos neste filme são de um tipo diferenciado, não são puramente alegres ou tristes, elas advém da plena constatação da solidão que envolve os personagens. Choramos ao perceber no rosto sem expressão de Johnny Depp, que nos remete ao Buster Keaton, o completo amargor de sua jornada, sem nenhuma possibilidade de redenção.
A história criada pelo diretor deixa perceptível o seu amor pelo cinema de terror gótico e pela fantasia. Escreveu um papel especialmente para seu ídolo de infância Vincent Price, o inventor que vivia isolado em seu castelo, em pleno crepúsculo de sua vida e muito próximo de realizar seu maior sonho: Edward.
Um jovem fadado à eternidade, um Pinóquio tímido e desajeitado tentando se acostumar ao mundo novo que nascia em seu horizonte. Com o falecimento de seu criador, a trágica criatura se descobre sem as mãos, tendo que se contentar com enormes tesouras.
Nesta hora percebemos a genialidade de Burton, pois poderia ter sido qualquer objeto, algo que fosse mais próximo de uma mão, mas ele escolheu tesouras. Instrumentos cortantes, que ao menor movimento podem ferir, expondo a terrível fragilidade psicológica do personagem de maneira simbólica. Edward na realidade somos todos nós em algum momento da vida.
Uma cena que expressa muito bem esta mensagem é quando vemos o nosso trágico herói fugindo da polícia e buscando auxílio na casa de sua “mãe” (vivida por Dianne Wiest). Escondido ele nota a presença de sua primeira paixão (Winona Ryder), que desesperada busca abraçá-lo, pois já o considerava falecido. A princípio ele tenta envolvê-la em seus braços, mas, com medo de machucá-la, ele desiste.
Os seus olhos transmitem impecavelmente sua intensa tristeza e resignação, até o momento em que a bela jovem mostra que ele não deve temer, aninhando-se segura envolta em seus braços.
Johnny Depp realiza as melhores cenas de sua carreira neste filme, como no momento em que reage à declaração de amor correspondido da jovem. Sutilmente ele fecha os olhos e, quando os abre novamente, é como se sua vida tivesse realmente iniciado naquele momento. Aliado aos belos acordes de Elfman, esta cena sempre me comove.
“Edward Mãos de Tesoura” é poesia visual, mas pode ser visto também como uma tremenda crítica social. A população da cidade recebe o jovem com os braços abertos, tratando-o como um rei.
Enquanto ele se mostrava útil, seja cortando os cabelos das fúteis donas de casa ou criando verdadeiras obras de arte em arbustos e que abrilhantavam suas moradias, a sociedade demonstrava seu afeto, porém, ao menor sinal de distúrbio, sem nem ao menos dá-lo chance de se explicar, passam a persegui-lo como os camponeses com a criatura de Frankenstein, no clássico de Mary Shelley.
Como sugestão, vale a pena assistir em sessão dupla com “Dogville” de Lars von Trier, que tenta passar esta mesma mensagem.
A obra demonstra o incrível potencial de Tim Burton quando ele não exagera na artificialidade em detrimento da emoção genuína e recompensadora.
Estava passando os olhos nos índices dos teus textos , aqui ao lado , quando vi o deste filme , maravilhoso , do Tim Burton . Emoçao com muita dose de simplicidade. Poético mas, certamente, crítico , como você disse.
Texto muito bom.
Perfeita sua síntese dese filme…uma mistura de poesia e de dor, pela ignorância do homem.
Amo esse filme e nao canso de assisti-lo.
Amo tanto esse filme e a trilha sonora é muito maravilhosa não tem como não se emocionar
Sempre achei muita semelhança com entre os dois filmes : a mesma histeria de massa, sordidez da sociedade com os mais frágeis , a facilidade com a qual utilizam da vulnerabilidade dos mais frágeis de forma utilitarista e cruel!
O primeiro filme emociona e o segundo dá um soco no estômago !
Bela análise !