Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (You Only Live Twice – 1967)
Os produtores queriam filmar “A Serviço Secreto de sua Majestade” logo após o filme anterior, porém não tiveram sucesso em encontrar boas locações e em alta altitude, elementos que a trama exigia. Somado a isto, havia uma crescente vontade de Sean Connery em se desligar do personagem e alçar novos picos em sua carreira.
A pré-produção foi acelerada, pois o ator estava com seu contrato prestes a expirar e os diretores Terence Young e Guy Hamilton não estavam disponíveis para assumir o projeto.
O comando da produção ficou a cargo de Lewis Gilbert, que acabou ficando responsável por três filmes da franquia, sendo dois deles provavelmente os mais fracos (“You Only Live Twice” e “Moonraker”) e “The Spy Who Loved Me”, que é considerado por muitos a melhor aventura da era Roger Moore.
O roteiro foi escrito por Roald Dahl (famoso por ter criado “A Fantástica Fábrica de Chocolates”), baseado livremente no livro homônimo de Ian Fleming, escrito em 1964. Pela primeira vez, os produtores arriscariam afastar-se da fidelidade ao cânone dos livros, o que para muitos fãs simbolizou o início do fim, marcando um período em que as produções escalavam a montanha da suspensão de descrença do público, deixando de lado os elementos de espionagem e favorecendo cada vez mais o espetáculo.
A trama é simples e pouco interessante: O líder da S.P.E.C.T.R.E., direto de uma base japonesa, sequestra uma nave americana em pleno espaço e coloca a culpa no governo soviético. Pouco depois, sequestra uma nave soviética e o governo americano é que leva a culpa. O conflito é iminente, mesmo que pouco inspirado.
James Bond é enviado ao Japão, onde irá precisar se fazer passar por um oriental, casando-se com Kissy Suzuki (talvez a mais inexpressiva Bond Girl da história, Mie Hama) e aliando-se a um grupo do serviço secreto japonês, liderado por Tiger Tanaka (interpretado por Tetsuro Tamba). Juntos irão liderar uma invasão em massa ao esconderijo da organização criminosa, localizado no interior de um vulcão extinto, um dos melhores trabalhos do brilhante desenhista de produção: Ken Adam.
O filme merece crédito ao mostrar pela primeira vez o rosto do vilão Ernst Stavro Blofeld: Donald Pleasence, que entrega uma atuação discreta, mas marcante. Mesmo seu personagem tendo sido interpretado por três atores diferentes em três filmes, sua versão, com a enorme cicatriz no rosto, é a mais lembrada pelos fãs, inclusive sendo alvo de sátiras como o Dr. Evil dos filmes de “Austin Powers”.
Um ponto alto do filme é a inclusão da ótima gadget: “Little Nellie”, um helicóptero de pequeno porte, projetado exclusivamente para o filme e que mostra seu poderio em uma antológica cena de batalha aérea ao som da ótima melodia de “007”, composta por John Barry para a trilha de “From Russia With Love”.
Outra cena que eu gosto muito é a da batalha encenada entre o espião e vários capangas do vilão no topo de um prédio, acompanhados de cima pela câmera de um helicóptero, dando uma dimensão muito maior àquela que poderia ser apenas mais uma cena de luta corporal na franquia. Crédito merecido ao editor Peter Hunt, que no projeto seguinte foi alçado para o posto de diretor.
A canção-tema foi entregue à estrela pop adolescente em ascensão: Nancy Sinatra, que demonstrou insegurança na tarefa, chegando a questionar os produtores sobre a razão de não terem convocado Shirley Bassey em seu lugar. A melodia criada por John Barry utiliza-se de arranjos inspirados na música japonesa e sua letra foi escrita por Leslie Bricusse, responsável por “Goldfinger”, quatro anos antes.
O faturamento global do filme ultrapassou 111 milhões de dólares e, mesmo não tendo sido bem recebido pela crítica, garantiu uma continuação. Só que da próxima vez, o elemento crucial no sucesso da série iria se ausentar. Connery recusou-se a continuar interpretando o herói criado por Ian Fleming, ele chegou a se irritar com os repórteres japoneses, que nos eventos de divulgação somente o chamavam de “Mr. Bond”. Seria este o fim da franquia?