A Balada do Soldado (Ballada o Soldate – 1959)
Um dos argumentos que mais escuto de cinéfilos iniciantes quando sugiro filmes que não fazem parte do circuito americano: “lá vem você com aqueles filmes cabeça ucranianos”. Como acredito firmemente que o passo inicial para qualquer pessoa interessada em desbravar a sétima arte seja deixar de lado todos os pré-conceitos e arriscar procurar diamantes incrustados nas formações rochosas mais profundas, normalmente indico “A Balada do Soldado”.
Analisado hoje, apresenta uma estrutura narrativa ágil e plenamente eficiente, emocionando ao contar a odisseia de um soldado de dezenove anos, um menino imaturo jogado em meio à crueldade da guerra. Após realizar de forma desajeitada um feito heroico em batalha, recebe de seu superior uma notificação honrosa.
Angustiado por não ter conseguido se despedir de sua mãe em sua humilde vila, tendo seguido sua estrada deixando para trás um reparo inacabado no teto de sua casa, o jovem pede ao seu superior que no lugar da notificação, ele possa ter pelo menos um dia ao lado de sua mãe, prometendo retornar em seguida.
Como não aprecio revelar muito sobre as tramas, pois quero que a sua experiência não seja prejudicada, saliento nos próximos parágrafos apenas alguns detalhes que merecem sua atenção.
A bondade do jovem Alyosha (Vladimir Ivashov), que acaba por várias vezes arriscando desviar-se de seu objetivo tão desejado, buscando ser útil para compatriotas estranhos (como o soldado que perdeu uma perna e intenciona deixar sua mulher acreditar que ele faleceu). Uma rápida e bela cena ocorre logo após o jovem conhecer a realidade daquelas que aguardam o retorno dos soldados, entregando-se a paixões frívolas como forma de escape.
Ele encontra com o pai do soldado, muito debilitado, escolhendo mentir para tranquilizá-lo sobre o status elevado de seu filho, enquanto o pai escolhe mentir para o jovem sobre a esposa do filho, pedindo para que ele volte e diga o quanto ela o ama e aguarda seu retorno. Ambos sabem que estão se enganando, mas o respeito os impede de deixar transparecer.
Momentos dramáticos como este mantém seu vigor, assim como a eficiência do alívio cômico, representado pela figura do jovem e subornável oficial do trem, que acomoda clandestinamente em seu interior o jovem soldado e uma bela menina (Zhanna Prokhorenko), seu primeiro amor.
A narração que inicia o filme já evidencia que iremos ver a jornada de um soldado que não conseguiu voltar para casa, mas a cada nova situação pela qual o jovem passa, torcemos para que a mágica do cinema opere e ocorra um final feliz.
O diretor (e corroteirista) Grigori Chukhrai se foca no básico, sem em nenhum momento forçar a estética sobre seu discurso (algo que viria a tornar-se usual no cinema soviético), mantendo-o simples e, ainda assim, refinado.
* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.