Neste especial “Woody Allen”, começo sempre com um texto cômico, no estilo do homenageado, um dos meus ídolos nesta arte.
Pura incompetência. Já inicio o texto confidenciando a você tal pecado. Horas atrás, poderia ser dito que essa seria uma postagem especial no dia do aniversário do homenageado. Porém, agora já estamos no dia 02 de dezembro, caso esteja lendo em qualquer outro dia, lamento dizer que chegou atrasado…
O QUE ME FAZ LEMBRAR QUE AINDA NÃO COLOCAMOS A ÁRVORE DE NATAL NA SALA, NEM O PRESÉPIO… SE É QUE DOIS BURRICOS, UM SEM UMA ORELHA, UMA MARIA E UM MENINO JESUS, PODEM SER TIDOS COMO PARTICIPANTES DE UM REAL PRESÉPIO. O CASO É QUE, EM UMA TENTATIVA DESASTRADA DE ARRUMAÇÃO, PERDEMOS JOSÉ E OS OUTROS FIGURANTES. O MAIS CHATO É TER QUE EXPLICAR TODOS OS ANOS PARA MINHA RELIGIOSA AVÓ, QUE AQUELE JOSÉ DO PRESÉPIO, COM CAPACETE E UMA ESPADA SAMURAI NAS COSTAS, NADA MAIS É QUE UMA DE SUAS FAMOSAS ALUCINAÇÕES. (ACHO MELHOR VOLTAR AO FOCO, CASO CONTRÁRIO EU PODEREI COLOCAR ESTE TEXTO COMO UM ESPECIAL DO PRÓXIMO ANIVERSÁRIO DE WOODY)
Como estava dizendo, demonstro nesse momento não dominar o mínimo talento que todo jornalista deveria possuir: o senso de timing. Houve uma vez em que passei uma manhã inteira escrevendo um texto sobre filmes catástrofe da década de setenta. Terminei orgulhoso e preparei tudo para postar no site, somente para, dois minutos depois, ligar minha televisão e perceber que o mundo inteiro chorava a morte de várias pessoas em um terremoto no Haiti. Eu tive que aguardar para postar o texto um tempo depois, mas aquilo ficou na minha cabeça.
Lembrei-me da tragédia de 11 de setembro, em que estranhamente faltei à escola (a quem estou enganando? Estranho seria eu ter estado nela!), acordei cedo, mais estranho ainda, e senti uma propensão a ver meu velho VHS de “Além da Eternidade” (para quem não sabe, Robert Dreyfuss vive um aviador que morre em plena atividade). Com a fita em mãos, pronto para inseri-la no aparelho, ligo a televisão e lá estavam as duas torres. Alguns segundos depois, um avião se choca, era o segundo, e imediatamente largo a fita no chão, terrivelmente assustado. Timing.
“Estas histórias são reais, por mais incrível que possa parecer.” (Nota do Autor)
Fazendo uma estatística rápida: nesse texto eu já fiz piada com o Natal, com o terremoto no Haiti e com o 11 de setembro, o que no Brasil de hoje pode me levar a ser preso. O que surpreendentemente me encaminha ao tema central do texto: um homem azarado chamado Virgil Starkwell, que sonhava apenas em ser um criminoso bem sucedido, porém, passava grande parte de seu tempo entrando e saindo de prisões.
Um Assaltante Bem Trapalhão (Take the Money and Run – 1969)
Estes dois na foto acima são os pais de Virgil. Como o corpo fala, alguns chegam a berrar, notem a disposição que eles sentem por poderem falar de seu filho. Percebam também o sutil disfarce que eles utilizam para que o público do documentário não os reconheça e os apedreje na rua. Fazem por vergonha? Sim, mas quem não teria? Nas palavras do pai: “Virgil nunca prestou! Ele é ateu, por mais que eu tenha passado a vida inteira espancando ele, tentando colocar Deus em sua vida, mas foi inútil. Você não se interessaria em ver minha coleção de selos?”
Os dez primeiros minutos são geniais, pois ficamos conhecendo os primeiros passos do jovem no crime. Claro que antes ele tentou uma vida simples, como um violoncelista. O problema era acompanhar a bandinha da rua, com o seu instrumento em uma mão e, na outra, uma cadeira. Não havia jeito, pois a rota do crime parecia estar em seu destino. Após pequenos furtos, acabou sendo preso pela primeira vez. Inspirado, tentou fugir utilizando uma barra de sabão e sua perícia artesã.
Dias depois, com seu perfeito revólver de sabão pintado com graxa de sapato, ele se aventurou a cruzar os muros que o aprisionavam. Azarado, não percebeu a torrencial tempestade que castigava aquele local, fazendo com que, em poucos segundos, para a surpresa dos policiais, seu revólver virasse uma grande bola de espuma. Novamente atrás das grades, aceitou ser cobaia em um experimento com uma revolucionária vacina, pois aquilo iria atenuar sua pena. Ninguém imaginava efeito colateral tão absurdo: Virgil tornou-se um rabino, de longa barba, e pregou belos sermões para os oficiais.
Neste seu primeiro projeto (no anterior ele dublava um filme oriental), Woody ainda demonstra estar estabelecendo seu estilo, com momentos geniais, como os já citados, e alguns irregulares. Toda a sua ironia está presente, porém, certas quebras de ritmo ainda deixam claro seu amadorismo técnico, que viria a ser lapidado em pouco tempo…
“Tavinho, queira fazer o favor de deixar de lado todo este blá-blá-blá técnico e sua testa franzida de crítico, apenas avalie utilizando a emoção.” (Nota da Mãe do Autor)
“Um Assaltante Bem Trapalhão” é engraçado demais! Você vai gargalhar tanto que irá querer conhecer toda a obra do Allen. Humor inteligente, ácido, irônico, pastelão, judeu, atemporal…
“Esqueça o que eu disse, senão perderá seu emprego.” (Nota da Mãe do Autor)
Este foi o primeiro “mockumentary” (falso documentário) da história do cinema, um estilo que o próprio diretor revisitaria posteriormente no excelente “Zelig” (1983).
Agora já temos pré-venda do filme pela Livraria Cultura. Ainda não é em blu-ray, mas mesmo sendo em dvd…está valendo muito!