Ao Cair da Noite (Les Bijoutiers du Clair de la Lune – 1958)
No filme, Brigitte Bardot vive uma adolescente que acaba de sair de um convento e vai morar com sua tia e seu violento marido. Com o tempo, descobre que sua tia está tendo um caso com o mesmo jovem (vivido por Stephen Boyd) que havia lhe arrebatado o coração à primeira vista.
A trama, que não deixa nada a dever aos melodramas de Douglas Sirk, possui mais méritos do que os críticos costumam citar ao analisarem o filme.
A câmera parecia estar apaixonada por ela e a buscava em cena, sempre com uma atitude voyeur, brindando os espectadores com relances reveladores de seu corpo. Roger Vadim, que casou com ela após cortejá-la desde que ela tinha quinze anos de idade, criava os filmes como forma de apresentá-la ao mundo. Eles eram meros veículos para propagar aos quatro ventos a beleza de sua musa.
Uma cena em particular me surpreendeu positivamente: uma troca de olhares entre Bardot, Boyd e a tia, vivida por Alida Valli, logo após o falecimento do personagem vivido por José Nieto. O subtexto é transmitido de forma brilhante.
Vários sentimentos se chocam, como o amor reprimido da personagem de Bardot ao descobrir o secreto romance entre sua tia e Lamberto (Boyd). Não sou fã do diretor, mas nesta cena ele provou ter talento. Já Bardot, que nunca considerei uma grande atriz, conseguiu ao final desta sessão me fazer relembrar as razões que a tornaram um símbolo da sensualidade mundial. Nem Bob Dylan resistiu ao seu charme, tendo dedicado sua primeira canção à musa francesa.
A realidade é que Bardot conseguiu domar até mesmo Godard, que a dirigiu no excelente “O Desprezo” (Le Mépris – 1963). O controverso diretor não pediu para ela interpretar a personagem Camille, mas sim, que Camille se tornasse Bardot.