O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back – 1980)
É interessante perceber que o filme, atualmente considerado o melhor da franquia, recebeu muitas críticas desanimadoras em sua estreia. O produto era estranho na indústria, com seu desinteresse em explicar o contexto aos novos espectadores, suas transições antiquadas que remetiam aos seriados de sci-fi do cinema, além de uma atmosfera muito sombria e que contrastava bastante com a divertida aventura samurai espacial lançada dois anos antes.
A Força estava com o competente diretor Irvin Kershner, que, diferente do criador da saga, sabia dirigir atores. A alma do projeto reside na fantástica trilha sonora composta por John Williams, em sua melhor incursão na saga. Ele não somente estabeleceu a identidade sonora da ameaça imperial com a wagneriana “The Imperial March”, como também humanizou uma marionete em “Yoda’s Theme”, com a inestimável ajuda do competente Frank Oz.
A estrutura do roteiro de Lawrence Kasdan e Leigh Brackett (do clássico noir “À Beira do Abismo”) era ousada, expandindo o universo estabelecido em “Star Wars” com camadas de interpretação, injetando filosofia e elementos como traição, na figura de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), além de uma pessimista conclusão em aberto. Com o personagem Yoda (Frank Oz), George Lucas faz nova reverência ao mestre Akira Kurosawa, inserindo sua versão de “Dersu Uzala” no pantanoso Dagobah.
O trio principal, formado por Luke Skywalker (Mark Hamill), Leia Organa (Carrie Fisher) e Han Solo (Harrison Ford), evita a coerente caricatura do anterior, que não pedia qualquer aprofundamento, com suas motivações agora recebendo tanta atenção quanto as, por vezes trágicas, consequências de suas decisões.
A ideia de iniciar com o ataque do Wampa em Hoth, ainda que tenha sido um artifício para justificar a cicatriz no rosto de Hamill, vítima de um acidente de carro meses antes das filmagens, possibilitou uma das cenas símbolo dessa mudança de atitude, com o resgate perpetrado por Solo e o eventual acondicionamento do herói entre as tripas de um Tauntaun, para mantê-lo aquecido.
Em outro breve e poderoso momento, podemos ver que existe um homem desfigurado por baixo do elmo negro de Darth Vader (David Prowse – James Earl Jones), uma figura envolta em mistério. Como hoje sabemos, a saga é um work in progress, por mais que Lucas afirme que já estava tudo planejado desde o início. O público em 1980 ignorava completamente qualquer informação sobre este personagem, o que o tornava ainda mais ameaçador.
A surpreendente revelação ao final, conduzindo a trama para um viés de tragédia edipiana, como retratada por Freud em “Um Distúrbio de Memória na Acrópole”, com direito a uma chocante mão decepada, ecos de um complexo de castração, que acaba culminando na subjugação do pai pelo filho, levando à formação do superego.
Todas estas discussões elevam o entretenimento a mais do que o batido conto de maturidade, com inspiração no monomito (a jornada do herói) de Joseph Campbell, trabalhado no filme anterior.