O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker – 1962)
Este belíssimo filme conta a história real da professora, vivida por Anne Bancroft, que busca incessantemente mostrar as belezas do mundo a uma menina cega e surda, a jovem Helen Keller, uma atuação impressionante de Patty Duke, que já estava vivendo a personagem nos palcos, contracenando com Bancroft. Com muita persistência, ela consegue retirar a garota de uma realidade solitária e depressiva, levando-a a adaptar-se ao mundo, fazendo-a conseguir se expressar.
No caso, foi preciso pulso firme por parte de Anne, pois a família da jovem havia contribuído para que ela se colocasse em um pedestal, como revoltada vítima das circunstâncias, da qual foi retirada por intermédio de uma rígida disciplina amorosa.
Ela sabia que seria difícil alcançar a alma daquela jovem, que estava perdida nas profundezas daquele enigma aparentemente impenetrável que os anos de escuridão e solidão haviam cruelmente forjado.
Para aqueles mais interessados, recomendo fortemente o excelente livro “Lutando contra as Trevas – Minha Professora Anne Sullivan Macy”, escrito pela própria Helen, que adquiri por irrisórios dois Reais alguns anos atrás em um sebo. Em um dos vários trechos que guardo em minha memória afetiva, ela escreve: “Nunca se deve consentir em rastejar quando se sente um impulso para voar”. E esta obstinação foi muito bem captada na peça e inteligentemente adaptada pelo roteiro de William Gibson, com a direção impecável de Arthur Penn, que faria “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas” alguns anos depois.
A cena que motivou o texto dura por volta de oito minutos, sem diálogos ou trilha sonora, ocorrendo no primeiro momento em que as duas ficam sozinhas numa sala de jantar que se torna um intenso campo de batalha.
Helen inicialmente busca atrair atenção se debatendo no chão, enquanto Anne calmamente continua almoçando. Minutos antes, ela havia percebido que a garota não conhecia limites, devorando os alimentos de todos os pratos como se fosse um animal enjaulado, sendo mimada pela piedade de sua família.
A professora estava obstinada a não deixar a menina sair daquele ambiente sem aprender que devia comer apenas sentada à mesa e com talheres. A brutalidade da cena choca, fazendo com que a angústia progressivamente se torne mais insuportável, com agressões físicas de ambas as partes.
Eu chego a imaginar que o diretor William Friedkin possa ter se inspirado nesta cena para achar o tom de grande parte de seu “O Exorcista”. Ao final, uma pequena grande vitória que é relatada pela professora à extasiada mãe: Helen come na mesa e com talheres, até dobrando seu guardanapo.
Ainda havia um longo caminho pela frente, pois ela precisaria educar os verdadeiros deficientes da trama, os familiares da menina.
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