John e Mary (John and Mary – 1969)
John e Mary se conhecem em um bar e passam a noite juntos. No dia seguinte, ambos recordam seus fracassos amorosos e imaginam se o relacionamento entre eles pode realmente dar certo. Eles se reencontram e revelam seus nomes pela primeira vez.
O diretor inglês Peter Yates é normalmente lembrado pelo excelente “Bullit”, com Steve McQueen, mas o filme de sua carreira que mais revisito, sempre com prazer renovado, é esta pequena gema. Já li muitos críticos estrangeiros apontando erros, argumentando que os protagonistas não são desenvolvidos ou que a própria trama não se aprofunda na relação entre os dois.
Então qual é a mágica que sobrepuja qualquer defeito que possa ser encontrado, tornando a experiência de rever Dustin Hoffman e Mia Farrow tão prazerosa? Quando um crítico analisa uma obra de arte como se estivesse resolvendo uma equação matemática, acaba racionalizando em excesso e perdendo a sensibilidade para os detalhes.
Os dois jovens se esbarram em um bar, completos estranhos que, sem imaginarem, carregam o mesmo medo, as mesmas preocupações. Ela busca conhecer alguém com quem possa passar uma noite, sem a preocupação de que o homem precise voltar para sua esposa antes do nascer do dia. Ele acabou de ser usado por uma modelo fútil, que se apoderou de seu apartamento por conveniência, não precisaria pegar mais táxi para o trabalho, o que o fez temer este tipo de aproximação, esta entrega emocional plena. Os nomes um do outro, desconhecem.
Eles inicialmente buscam conhecer-se analisando discretamente seus pertences pessoais, sempre mantendo diálogos internos muito mais reveladores que os externos, algo resolvido de forma simples e eficiente no roteiro, similar ao que Woody Allen utilizaria anos depois em seu “Annie Hall”.
Adoro o momento em que ela conta onde e com quem mora, mas vemos a narração pelo ponto de vista dele, o humor é muito bem trabalhado. Fica clara a influência estética dos primeiros filmes europeus da Nouvelle Vague.