American Pie 2 – A Segunda Vez é Ainda Melhor (American Pie 2 – 2001)
Eu vou confidenciar para você, caro leitor, um dos critérios que utilizo quando escrevo sobre filmes de gosto duvidoso, os chamados “guilty pleasures”. Após selecionar alguns em um rápido resgate emocional, foco minha atenção naquele cujo texto mais me demoro escrevendo.
Eu vou parando em cada linha, analisando se é válido confessar publicamente o apreço por aquele título. Esse texto em que agora pousa seus olhos foi especialmente difícil de terminar. O caso é que eu era na adolescência uma mistura de Jim e Finch. Até fisicamente, já que compartilho com o ator Jason Biggs um nariz um pouco avantajado, ou, como minha mãe costumava dizer, nariz de italiano.
E, naquela época, como eu era muito magro, ele realmente se sobressaía na multidão. Hoje, com um peso normal, entendo que ele era até discreto. Como o personagem vivido por Eddie Kaye Thomas, eu era considerado um erudito chato por quase todos da turma.
Sério e praticante da arte de inserir referências literárias e cinematográficas em praticamente qualquer assunto, faltava-me apenas encontrar minha musa, minha “Stifler’s mom”, a milf dos sonhos. Assistir a este filme, enquanto estudante adolescente nerd e pouco desenvolto com as mulheres, fazia obrigatoriamente com que eu me identificasse naquele contexto.
Em sua estreia, eu lembro que morri de rir com as trapalhadas do rapaz ao tentar aprender a soltar um sutiã com apenas uma mão, exatamente porque eu também não tinha experiência alguma neste sentido. O pai, vivido por Eugene Levy, sempre flagrando seu filho em desastradas aventuras românticas, aquele pesadelo clássico de constrangimento que persegue os jovens inseguros, inseridos sem roupa em ambientes públicos de seu cotidiano, fala diretamente aos medos compartilhados por adolescentes do mundo todo.
O colega extrovertido e inconsequente, como o Stifler vivido por Seann William Scott, que parece viver em um universo paralelo, com leis próprias, escondendo por trás de suas ininterruptas festas regadas a álcool, o pavor de amadurecer, como um Peter Pan intensamente pervertido.
É impagável a cena que mostra a reação dos amigos à chegada dele após ser vítima de mais uma brincadeira cruel. Ela desperta aquele pré-adolescente interno em cada um de nós, que já passou por aquela fase tola de preparar sucos exóticos com ingredientes bizarros, somente para rir até chorar da cara dos amigos que tiveram que beber. Até eu, que, por ter sido excessivamente introvertido, era sempre o alvo destas brincadeiras, não consigo me privar desta risada nostálgica.
O filme do diretor J.B. Rogers, que considero o mais engraçado da franquia, faz parte de um subgênero que é importante em cada geração. Acho interessante a inspiração que o primeiro filme foi utilizar, na superproteção paterna e em sua cena mais famosa, envolvendo uma torta, bebendo da fonte do bom livro “O Complexo de Potnoy”, de Philip Roth, que li na mesma época em que conhecia “Os 120 Dias de Sodoma”, do Marquês de Sade.
É fácil menosprezar a comédia como bobinha, esquecível, mas acho mais válido buscar o diamante na rocha. Já com o olhar maduro, continuo me divertindo com este grupo de amigos, sempre revejo quando está passando na televisão.
Nunca me esqueço da última vez em que estive com meu pequeno grupo de amigos de escola, sentados no refeitório, planejando o que faríamos nas férias, imaginando quais desafios nos aguardavam. Ao final do papo, repetindo o gesto dos personagens de “American Pie”, levantamos nossos copos de refrigerante e brindamos ao próximo passo, sem imaginar que ele seria longo na estrada da vida e, eventualmente, nos afastaria em rumos diferentes.
Rir hoje com Jim, Finch, Oz, Stifler e Kevin, significa retornar àquela mesa do refeitório, onde nosso maior problema era passar nas provas finais.