O meu primeiro contato com Mazzaropi foi vendo o VHS de “O Jeca Macumbeiro”, alugado por meu pai, que diz ter assistido a quase todos os filmes dele no cinema. A cópia era péssima, a imagem bastante amarelada, o som quase inaudível. Aquilo era diferente de tudo que eu já havia visto, o humor tinha um timing próprio, a trama exalava uma liberdade, como se fosse tudo improvisado.
Tristeza do Jeca (1961)
O Jeca Macumbeiro (1974)
Jeca Contra o Capeta (1976)
A crítica normalmente despreza o popular como sendo, obrigatoriamente, resultado de um apreço com pouco critério, aplaudido por leigos que não sabem o que fazem. Não é um equívoco total de percepção, ainda mais nessa nação, onde a cultura nunca foi valorizada e a leitura não é um hábito sequer entre os adultos. O mercado nacional atual erra por buscar nutrir exatamente essa mediocridade confortável, produzindo comédias que, com raríssimas exceções, não seriam aceitas nem mesmo como pueril entretenimento televisivo em mercados mais competitivos.
É importante exercitar a sensibilidade e discernir o sofisticado que pode estar inserido em um produto sem maiores pretensões, da mesma forma que se pode constatar o vazio maquiado em uma obra que procura esbanjar sofisticação, com diretores celebrados e grandes orçamentos. Amácio Mazzaropi era muito inteligente, capitalizava em cima dos temas que estavam fazendo sucesso no mundo, transportando, por vezes, de forma até tímida, aquela temática para o universo de seu personagem.
A comédia nacional atual copia o estilo americano, afirmando estar falando a “língua” do povo brasileiro, quando, na realidade, ela está nutrindo a expectativa desse povo que se acostumou ao estilo americano de comédia. Nossa comédia não é simbolizada pelas gags de “Friends” ou “Seinfeld”, ou pelo humor visual meticulosamente construído de Jacques Tati e Jerry Lewis, não é tão elaborada. O humor genuinamente nacional de Chico Anysio, José Vasconcellos, Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, entre tantos outros, é direto ao ponto, frases contundentes, estrutura simples, que não precisa ser sinônimo de simplória e populista.
O Jeca de Mazzaropi percebeu que “O Exorcista” lotava cinemas no mundo, então trabalhou o tema em “O Jeca Macumbeiro” e “Jeca Contra o Capeta”, criando as situações com base em seu próprio estilo, aquilo que seu público já sabia que iria encontrar. Quando ele dizia que pensava seu cinema objetivando o público, não a crítica, ele dava uma aula que ainda hoje não foi aprendida por aqui. Não há maneira de se criar uma indústria de cinema somente com projetos autorais e pretensões existencialistas, nós precisamos trabalhar variados gêneros, incentivando cineastas de qualidade a ousarem no terror, na ficção científica, no musical, não ficar reutilizando uma panelinha de meia-dúzia de incompetentes que pensam apenas no lucro, não no legado artístico que irão deixar para o cinema nacional do amanhã.
O Pirola de “O Jeca Macumbeiro” retruca o esquálido Nhonhô, após escutar que ele está sentindo a morte chegar, afirmando com segurança que ele está até forte e corado, numa demonstração do humor irônico e direto de Mazzaropi, uma espécie de Groucho Marx com fala mansa. Na mesma cena, ele se mostra mais direto, ao utilizar a simples analogia com o signo de Virgem, como explicação lógica para o fato do homem doente não ter se casado. Alguns segundos depois, emocionado ao descobrir que o homem irá deixar sua fortuna pra ele, numa abordagem ainda mais direta, na linha tênue do vulgar, ele faz um jogo de palavras: Nhonhô, Deus lhe pague por ocê ter escolhido eu pra ficar “comerdeiro” seu. Ele, nas palavras de Leonardo da Vinci, demonstrava que a simplicidade é o último grau de sofisticação.
No inferior “Jeca Contra o Capeta”, o demônio aparece na forma de uma lei do divórcio, onde o exorcismo, como aconselhado pelo Jeca, poderia se resumir a um “banho de picão”. Já em “Tristeza do Jeca”, ele realiza profunda crítica social, extremamente atual em um governo de cotas e bolsas, quando seu personagem responde a um grupo de trabalhadores da roça, que afirmavam ingenuamente que a vida ia melhorar, já que eles todos iam votar no coronel.
Mazzaropi afirma: “Vocês podem parar de encher minha cabeça com esse negócio de política? Entra prefeito, sai prefeito, vocês tão se queixando. Vocês não querem trabalhar, querem viver à custa de governo. Faz que nem eu: trabalha!”
Octavio Caruso:
A critica de cinema do passado, ou seja dos nossos tempos de Mazzaropi era formada por pretensos cineastas que não deram certo, por isto era facil criticar Mazzaropi; Hoje Gênio do Cinema Brasileiro, aliás CINEMA e não Audio Visual; Jeca Macumbeiro é até hoje o recordista de publico do cinema Brasileiro, 16.668.000 pessoas em 4 semanas de lançamento; por acaso tem outro e o filme mais barato de Mazzaropi ou produzido pela PAM FILMES em torno de US$ 850.000,00, EQUIVALENTE; 44 latas de filme virgem, á média de Mazzaropi era 120; Meu pai de criação sabia como ninguem a lidar com o publico e com os politicos dos quais muito pouco se aproximava, somente quando necessário. Para seu conhecimento no CARDEX DA PAM FILMES, havia no Brasil 11.648 salas de Exibição de CINEMA, que a EMBRAFILMES com suas pronochanxadas fez questão de fechgalas, pois CINEMA sempre desde que exisia foi diversão de FAMILIA e só a EMBRAFILMES NÃO SABIA e por isto as salas de3 cinema acabaram, hoje existem em torno de 1.300 a maioria em shoppings para exibir filmes de AUDIOVISUAL estrangeiros, ou por acaso conhece alguem brasileiro que fez fime que conseguiu exibir seus filmes nos CINEMARKS da vida, que não seja a GLOBO FILMES, parabens pra ela. Tristeza do Jeca seu segundo maior CLASSICO pena que tenha sido produzido em TECNICOLOR, a partir disto passou para o estmancolor; Jeca contra o Capeta, foi mais uma transição; Vivi os ultimos 10 anos de sucesso com ele com quem fiz 04 filmes, JECÃO… UM FOFOQUEIRO NO CÉU, A Banda das Velhas Virgens, Jeca e seu Filho Preto, e o uoltimo O JECA E A ÉGUA MILAGROSA, os, escrevi, pré roterizei, fui e sou seus filho nos filmes, Dá um orgulho danado disto; André Luiz Mazzaropi – O Filho do Jeca. Taubaté-SP, 04-01-2015.
Já assistir quase todos de Mazzaropi e posso dizer que era, é e sempre será um icone do cinema nacional tanto para a geração passada , a presente e a que ha de vir. GRANDE MAZZAROPI. Parabéns pela matéria.