No início do reinado do VHS, era comum encontrar capas em inglês com o título original. Sempre fui fã de James Stewart, foi sua presença que me levou a adquirir esse filme na época. Um projeto praticamente desconhecido, feito para a televisão americana, mas que marca o encontro histórico de Stewart e Bette Davis. Não me recordo se a imagem era tão ruim quando adquiri a fita, mas, revendo agora, fiquei chocado com a péssima qualidade, até mesmo para os padrões limitados do formato. Uma trama emocionante e que, infelizmente, não foi lançada por aqui em DVD. Felizmente, você encontra com facilidade garimpando na internet.
Direito de Morrer (Right of Way – 1983)
Um pacto espinhoso entre um casal de idosos, sem netos, após a constatação de que a esposa está com uma doença terminal, tendo que enfrentar a obstinada negação da filha. Impossível ver a fita e não pensar em “Amor”, de Michael Haneke, guardadas as devidas proporções, celebrando a coragem da temática sobre eutanásia, ainda mais quando levamos em consideração que foi um filme de baixo orçamento feito para a televisão há mais de trinta anos, com todos os vícios de linguagem usuais em produções similares.
É possível perceber que o diretor George Schaefer bebeu da fonte de “Num Lago Dourado” para manter a leveza na abordagem, evitando sensacionalismo, com o alívio cômico reservado às menções aos gatos da casa, com nomes de artistas de cinema. A química dos atores reflete as complicações nos bastidores, com o ego de Davis falando mais alto, mas as cenas do casal no terceiro ato, retratando a cumplicidade que move as difíceis decisões tomadas, compensam todos os problemas.
É interessante a forma como a filha, vivida por Melinda Dillon, modifica sua forma de pensar, da máxima revolta ao terno sentimento de compreensão, simplesmente por se dedicar a estudar a questão, evitando qualquer submissão aos dogmas religiosos, adquirindo livros, como o ótimo estudo psicológico que aborda os cinco estágios do luto: “Sobre a Morte e o Ato de Morrer”, da doutora Elisabeth Kübler-Ross, e o campeão do prêmio Pulitzer de 1976: “Qual a Razão de Viver? Sendo Idoso na América”, escrito por Robert N. Butler.
James Stewart passou por caso semelhante, cerca de dez anos depois, após o falecimento de sua esposa Gloria, tornando-se recluso e evitando qualquer tratamento médico, passando a maior parte do tempo em seu quarto, saindo para se alimentar apenas por insistência de sua governanta.