Jornada nas Estrelas 5 – A Última Fronteira (Star Trek 5: The Final Frontier – 1989)
Como fã da formação clássica de “Star Trek”, fica difícil escrever sobre este filme. Apesar de todas as boas intenções de William Shatner, esta aventura com sérios problemas orçamentários não pode ser equiparada às outras aventuras da Enterprise, podendo ser vista como, no máximo, um divertimento no nível dos bons episódios da terceira temporada da série televisiva.
Leonard Nimoy, o bom e velho Spock, já tinha conquistado a crítica e o público como diretor nos dois anteriores, então Shatner decidiu que era hora dele deixar um pouco a poltrona de capitão e comandar verdadeiramente o projeto, como diretor e idealizador da rocambolesca trama.
O desastre foi tão grande, que os produtores tiveram que convocar Nick Meyer, diretor de “A Ira de Kahn”, para dar uma despedida digna à tripulação no excelente “A Terra Desconhecida”.
Existem elementos que funcionam, como a linda trilha sonora de Jerry Goldsmith, retornando à franquia após o primeiro, e o foco dado no roteiro ao relacionamento do trio principal, Kirk/Spock/McCoy, aprofundando de forma única os seus medos e falhas, a camaradagem que era a alma da série, simbolizada nas simpáticas cenas deles acampando.
O leitmotiv é bonito, a ideia de que nossos traumas não devem ser esquecidos, já que ajudam a forjar nossa personalidade, fortalecem a coragem.
A problemática execução, com direito a uma tola subtrama em que acompanhamos Sybok, vivido por Laurence Luckinbill, o sorridente meio-irmão de Spock, em uma jornada até um planeta distante habitado por Deus, foi prejudicada ainda mais pelos cortes no orçamento, que resultaram em efeitos especiais inferiores aos apresentados no filme original, lançado dez anos antes.
A inspiração do diretor veio das transmissões dos televangelistas, fenômeno que se espalhava pelos Estados Unidos, estelionatários que faziam fortuna com a ignorância do povo, prometendo a abertura do reino dos céus, tão logo os fiéis abrissem suas carteiras.
Como seria ter um habilidoso televangelista na tripulação da nave Enterprise, operando uma lavagem cerebral nos clássicos personagens, colocando-os em conflito? Um pretexto para discutir a clássica questão: racionalidade/ciência Vs. religiosidade.
É uma ideia fascinante que poderia ter resultado em algo intelectualmente instigante. A pergunta de Kirk: “Deus precisa de uma espaçonave?” representa o pensamento racional de qualquer pessoa sensata. Deus sendo tão poderoso, ele precisaria falar através de alguém, precisaria da senha do cartão de crédito de um fiel?
A resposta que ele encontra ao final, um dos pontos altos da obra, a percepção de que Deus está dentro de todos, que controlamos nosso próprio destino. Um pensamento corajoso para um projeto mainstream de apelo universal.
A montanha deve ser escalada, como Kirk afirma, simplesmente por ela existir, uma forma de retratar a angústia de envelhecer, o desejo de superar as limitações físicas. O problema é que estas cenas foram pensadas como alívios cômicos. Quando comparados ao timing perfeito de humor do filme anterior, estes momentos soam bobinhos e forçados.
O caso é que, apesar de todas as falhas, continuo encantado com esta pérola, que revejo com frequência.