Antes de Dormir (Before I Go To Sleep – 2014)
O cinema adora trabalhar o tema da perda de memória. O
problema é que o roteirista/diretor Rowan Joffe parece sofrer da mesma
patologia de sua protagonista, esquecendo subtramas e deixando no caminho
várias pontas soltas, conduzindo a um desfecho narrativamente incoerente e
intelectualmente insatisfatório, um anticlímax desnecessariamente meloso. As
tentativas de manipular o público em direções erradas, elemento importante em
obras de mistério, falham essencialmente por serem fundamentadas em atitudes
totalmente inverossímeis, inconsistentes. Uma experiência estranhamente
misógina, ainda que adaptado do livro de uma autora, que, numa leitura mais
profunda, de alguém muito interessado em filosofar sobre a letargia, trabalha
metaforicamente a odisséia traumática da protagonista como um torto julgamento
moral, uma punição para o adultério.
Com execução simplória de especial para televisão e soluções que caberiam
melhor em uma novela, é impressionante tentar compreender a razão que fez
Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong assinarem seus contratos. A trama
prefere a repetição, durante o segundo ato, mostrando ad nauseam o marido
explicando para a esposa sua situação, ao invés de se aprofundar no
desenvolvimento dos personagens, solidificando as motivações, intensificando o
desespero de alguém que esquece tudo a cada despertar. Algumas questões
interessantes, como a reflexão comportamental sobre as atitudes que tomaríamos
com alguém, caso soubéssemos que a pessoa iria se esquecer de tudo no dia
seguinte, as decisões que nos mantém íntegros e corretos, são esquecidas em
prol de cenas formulaicas de sustos e outras bobagens.
Com um diretor mais ousado, interessado em trabalhar as metáforas de forma
visual, poderia ter resultado em um produto melhor. O amadorismo de Joffe, sem
elegância alguma, destruiu qualquer potencialidade que havia na adaptação da
obra da autora S.J. Watson.