Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron – 2015)
Há um elemento que diferencia o público nerd daquele que
frequenta os festivais de cinema e, invariavelmente, despreza qualquer projeto
popular: ele busca a satisfação em, pelo menos, um momento bom do filme. Uma
cena empolgante, emocionante, já faz valer a experiência. O sisudo que adora
ver a tinta secar na parede por quatro horas, quase sempre, está procurando as
possíveis falhas no projeto, querendo saber se a obra passará pelo seu criterioso
crivo, satisfazendo, em primeiro lugar, o seu inflado ego. Um roteiro como o de
“Vingadores: Era de Ultron”, plenamente consciente de seu público-alvo,
acaba se permitindo brincar com as expectativas do fã, conduzindo o leitor de
quadrinhos, dos oito aos oitenta anos, em uma viagem genuinamente divertida
pelo terreno dos escapistas sonhos infantis. Não importa que existam falhas,
como em todos os filmes, tudo é perdoado quando o roteiro consegue fazer com
que o adulto na plateia, em alguma cena, com um sorriso nostálgico, estenda a
mão para sua contraparte infantil. E, sem exagero, o roteirista e diretor Joss
Whedon cumpre inteligentemente esse objetivo, no mínimo, umas três vezes ao
longo da trama. É óbvio que não irei revelar as cenas, mas, com certeza, posso
afirmar que elas superam, em emoção, os melhores momentos do filme anterior.

A trama carece de um vilão interessante, um ponto fraco, já que a ameaça de
Ultron caberia melhor em um desenho animado. Talvez tivesse sido melhor
utilizar o tempo para aprofundar o arco narrativo dos irmãos, Feiticeira
Escarlate e Mercúrio, o que intensificaria consideravelmente o investimento
emocional do público na participação deles no terceiro ato. Ela, Elizabeth
Olsen, com a bela plasticidade dos movimentos, acaba se saindo melhor que ele,
já que a atuação de Aaron Taylor-Johnson é inacreditavelmente desinteressada,
como se o ator tivesse desistido do projeto logo após assinar o contrato. É
compreensível perceber o cansaço de Robert Downey Jr., afinal, já é seu quinto
passeio nessa montanha-russa, porém, levando em consideração que o Homem de
Ferro é parte essencial da construção do problema que será enfrentado pela
equipe, senti falta do entusiasmo que o ator transmitia em seu terceiro projeto
solo, onde o personagem já lidava com as consequências mentais da primeira
aventura da equipe. Continuo impressionado com a competência de Mark Ruffalo,
um ator que está visivelmente adorando fazer parte dessa brincadeira, uma
sensação que contagia o público em todas as suas cenas. A Viúva Negra, vivida
por Scarlett Johansson, recebe maior atenção, assim como o Gavião Arqueiro, de
Jeremy Renner, que se torna protagonista de uma subtrama bucólica, na linha
tênue do melodrama de um especial para televisão, salvo apenas pelo carisma do
ator. O Thor, de Chris Hemsworth, vive seu momento mais genérico, com direito a
algumas piadas que não soam muito orgânicas na voz do personagem que foi
estabelecido nos filmes anteriores. É engraçado o recurso, mas, inegavelmente,
uma forçada de barra, na tentativa de inventar maior relevância para o Deus do
Trovão na narrativa.

Evitando soltar spoilers, vale destacar que, a despeito de um conflito apático,
o ponto alto acaba sendo a forma como o roteiro aborda a camaradagem da equipe,
evidenciada de forma épica nas batalhas e, impecável, nas cenas leves de
descontração sem os uniformes. Destaco também a beleza dos créditos finais,
firmando os super-heróis dos quadrinhos como a mitologia dos tempos modernos.
Há uma breve cena após os créditos finais, porém, sinceramente, achei pouco
criativa, muito previsível.



Viva você também este sonho...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui