Mad Max – Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road – 2015)
Em um mundo apocalíptico, Max Rockatansky (Tom Hardy) acredita que a melhor forma de sobreviver é não depender de ninguém. Porém, após ser capturado pelo tirano Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) e seus rebeldes, Max se vê no meio de uma guerra mortal, iniciada pela imperatriz Furiosa (Charlize Theron) que tenta salvar um grupo de garotas.
Alguns dizem que este é o projeto mais empolgante já feito sobre o nada, mas é bobeira reclamar disto, até porque o original, protagonizado por Mel Gibson, também tinha uma narrativa simples e objetiva. Acho mais correto exaltar a competência do roteirista e diretor George Miller, retornando ao universo que criou, por ter conseguido, com um fiapo de trama, prender a atenção com plena segurança por duas horas, entregando para o público simplesmente o melhor filme de ação do ano.
O toque mais interessante foi transformar o Max de Tom Hardy em um coadjuvante de luxo, inteligentemente subvertendo, em tom claro de crítica, as funções usuais dos personagens em uma obra do gênero. Ao quebrar as expectativas do público, reservando para o herói todos os clichês narrativos que são normalmente relegados às personagens femininas, que podem ser resumidos na cena em que o ombro de Max serve de apoio para a mira da protagonista, vivida por Charlize Theron, Miller evidencia o desleixo da indústria na criação de heroínas fortes.
As sequências longas de ação entorpecem os sentidos, não dão trégua, é uma aula de eficiência, sem o artifício comum de confundir o público com movimentos caóticos, como forma de mascarar a pouca habilidade daquele que está no comando. A câmera aqui age como se estivesse filmando as danças de Fred Astaire, ela apenas capta o desenvolvimento natural dos conflitos, deixando para a montagem o trabalho de impor o ritmo e o tom. Nos aspectos técnicos, o filme é impecável.
A fotografia de John Seale, coerente à ousadia narrativa já citada, uma atitude que respeita o filme de guerrilha que foi o clássico australiano, rejeita a paleta visual óbvia de poucas cores, moldura de dez entre dez filmes ambientados em cenários pós-apocalípticos. Ao final, o que se mantém na mente é a postura desafiadora, soco no estômago, típica de filme B, um charme raro dentre tantas obras formulaicas do gênero que a indústria despeja anualmente.
“Mad Max – Estrada da Fúria” não reinventa a roda, nem precisava, mas, sem dúvida, o septuagenário diretor deixou muito cineasta garotão, estes que são fabricados pelo hype de Hollywood, com uma tremenda inveja.