O Exterminador do Futuro (The Terminator – 1984)
Num futuro próximo, a guerra entre humanos e máquinas foi deflagrada. Com a tecnologia a seu dispor, um plano inusitado é arquitetado pelas máquinas ao enviar para o passado um androide com a missão de eliminar a mãe daquele que viria a se transformar num líder e seu pior inimigo. Contudo, os humanos também conseguem enviar um representante para proteger a mulher e tentar garantir o futuro da humanidade.
A franquia criada por James Cameron, a meu ver, acabou com “O Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final”, um excelente filme de ação, uma das melhores sequências da história do cinema. Não dou a mínima para esse novo subproduto que estão lançando, “Genisys”, mais uma tentativa de espremer a laranja para uma geração acostumada com muito barulho e pouca substância.
Os dois anteriores, medonhos, provaram total ignorância dos produtores, desrespeitando a essência de filme B sci-fi do original, uma obra de horror, com um clima opressivo de pesadelo que não encontrei nos anteriores e, pelos trailers, acredito que não irei encontrar no novo. Então, sem mais delongas, irei voltar minha atenção para o original.
O roteiro é um exemplo de precisão, sem gordura extra, inteligentemente utilizando o baixo orçamento como ferramenta para construir suspense, valorizando sombras e insinuação, o monstro que parece mais ameaçador na imaginação do espectador. O ciborgue, vivido por Arnold Schwarzenegger, caminha lentamente, como os vilões sobrenaturais dos slashers.
E esta atitude incita no público, inconscientemente, a constatação aterrorizante: ele poderia correr mais rápido que qualquer humano, ele é superior, porém, ele prefere perturbar suas vítimas psicologicamente antes do ataque decisivo.
Quando ele persegue Sarah Connor, vivida por Linda Hamilton, quase sempre filmado de um ângulo baixo, ele se torna mitológico, aquele ser que se esconde embaixo da cama das crianças, o medo primitivo. E ela, vítima, acaba agindo como criança.
O silêncio dele, recurso muito eficiente, intensifica sua presença física, aliado ao vermelho do olho robótico, uma cor que transmite fúria. É interessante como a produção escolheu um ator franzino, Michael Biehn, para viver Kyle Reese, alguém que foge completamente da imagem de herói de ação. O contraste físico entre essas duas forças em conflito é importante, outro elemento que parece ter sido ignorado no filme mais novo.
O trabalho magnífico de Stan Winston, responsável pela criação da icônica imagem do esqueleto metálico de T-800, ainda que esteja datado hoje, eu considero mais visualmente impactante que o produto da computação gráfica atual. Vale salientar também os interlúdios românticos, fotografados por Adam Greenberg em tom onírico, que transmitem a melancolia da relação do trágico casal, o senso de aniquilação à espreita, um clima comparável ao de “Blade Runner”.
Antes mesmo do público ser apresentado ao conceito do ciborgue, a fotografia monocromática em tom azul do filme já estabelece, sem auxílio de diálogos, a soberania das máquinas nas primeiras cenas. Não há qualquer tom de verde, por exemplo, somente a escuridão da noite.
Quando Schwarzenegger aparece pela primeira vez, o espectador da época, ignorante sobre a trama, já tinha consciência de que estava diante de uma daquelas máquinas ameaçadoras. Cameron, em poucos minutos e com baixo orçamento, consegue dizer todo o necessário sobre o universo de seus personagens.
A simples imagem do tanque passando por cima do crânio humano é mais eficiente que todas as explosões em computação gráfica dos filmes posteriores.
Caro, Octavio, realmente "O Exterminador do Futuro" é um obra de horror trajada de B Sci-fi das mais assustadoras e brilhantes da história do cinema. Considero uma obra-prima do gênero. Ressalto também a incrível relação tempo-espaço que costura o roteiro (certamente Einstein adoraria) à história de Sarah Connor, que é praticamente um paralelo com a saga bíblica da Virgem Maria fugindo do rei Herodes para que o menino Jesus não fosse morto e viesse a se tornar o salvador da humanidade. Um filme obrigatório para quem aprecia a sétima arte. Grande abraço.