A Árvore da Vida (Raintree County – 1957)
O abolicionista John Wickliff Shawnessy (Montgomery Clift) se afasta de sua namorada de escola Nell Gaither (Eva Marie Saint) e começa um caso de amor apaixonado com a rica beldade sulista Susanna Drake (Elizabeth Taylor). Ele é obrigado a se casar com ela quando ela falsamente lhe diz que está grávida.
O equívoco mais comum que se comete é comparar esse filme, dirigido por Edward Dmytryk, com “E o Vento Levou”, apenas por serem épicos românticos ambientados no período da Guerra Civil. Em sua época, muitos críticos já haviam sentenciado a obra ao fracasso, antes mesmo da estreia, devido à máquina de propaganda do estúdio MGM, que prometia um espetáculo que iria superar o clássico já citado.
A estratégia era pretensiosa, porém, compreensível, levando em conta que Hollywood enfrentava problemas que não existiam na década de trinta, como a ascensão vertiginosa da televisão como entretenimento mais confortável e mais barato que a sala escura. Outro fator que atrapalhou a análise objetiva de crítica e público foi o terrível acidente ocorrido com o protagonista Montgomery Clift, um evento que interrompeu as filmagens por dois meses e alimentou brutalmente a imprensa marrom.
O jovem astro, reconhecido internacionalmente como um ícone de beleza, bateu com seu carro após sair de uma festa na casa de Elizabeth Taylor e quase morreu. A anfitriã, amiga muito próxima, chegou ao veículo a tempo de retirar dois dentes dele que estavam presos na garganta, impedindo a respiração. O rosto dele ficou dilacerado. O estúdio queria substituir o ator, que já havia filmado várias cenas, e seguir com as filmagens, mas, num rompante de fúria, Taylor se recusou a continuar no projeto sem a presença do colega.
Ele passou por cirurgias plásticas e, com a ajuda de uma maleta de analgésicos, voltou ao trabalho. Como o próprio ator profetizava, a bilheteria do filme estava garantida, já que o público pagaria apenas para tentar discernir as cenas anteriores das posteriores ao acidente. E, efetivamente, a atenção de todos na época estava focada em buscar o ator em cada sequência, a trama era o que menos importava.
Clift nunca mais se recuperou psicologicamente da tragédia, cometendo, como se costumava dizer, o mais longo suicídio da história da indústria. É triste perceber a diferença na expressão dele, da jovialidade despreocupada a um pesar constante, com o lado esquerdo do rosto paralisado, como se ele tivesse envelhecido alguns anos em uma mesma sequência. O bonito é perceber que, mesmo sentindo tremenda dor, o astro conseguiu entregar uma excelente atuação.
A produção caótica se reflete no resultado, que tinha potencial para ser muito melhor, mas, ainda assim, consegue ser bastante eficiente. O livro original, escrito por Ross Lockridge, Jr., tem sua estrutura narrativa inspirada claramente em “Ulysses”, de James Joyce, sendo uma tarefa muito difícil adaptar as páginas para a linguagem cinematográfica linear dominante no período. Só pela coragem da tentativa, além de ser o primeiro projeto filmado em grandiosos 70 mm, já vale o reconhecimento. É a segunda parceria de Clift com Taylor, após o sucesso de “Um Lugar ao Sol”, e dá pra sentir o carinho entre os dois, uma química que salva algumas cenas menos inspiradas.
Gosto muito da trilha sonora de Johnny Green, responsável também por outra obscura pérola: “A Noite dos Desesperados”, de 1969. Ele vai de encontro às melodias convencionais do gênero, marcadas pelo exagero sinfônico, apostando na sofisticação elegante de melodias minimalistas e que emolduram os sentimentos dos personagens, especialmente o trio principal, ao invés de se deixar levar pelo escopo histórico da trama.
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Wow!
Comentário excelente, daqueles que motivam a assistir o filme. Infelizmente, vai para o final da lista de desejos que já está beirando o infinito.