O Mestre do Kung-Fu (Feng Hou – 1979)
Um exímio praticante de Kung Fu tem suas mãos quebradas por um homem com inveja de suas habilidades. Após cair em uma armadilha preparada pelo gangster Duen e ter suas mãos inutilizadas, Chen, que era um ator de ópera de Pequim, passa a fazer performances de rua com um macaco treinado, e assim passa a ganhar a vida.
Com um olhar apurado, o diretor encontrou Hsiao Ho na ópera chinesa, ensinando a ele o estilo do macaco, o que fez a carreira dele em vários filmes do estúdio. Este é o melhor trabalho dele, resgatando as origens do Kung-Fu, uma arte marcial baseada nos movimentos dos animais, nascida de homens que observavam a natureza e incorporavam estilos marcados pela imprevisibilidade dos golpes.
Esta atitude libertária é a essência do treinamento do jovem, que alia seu temperamento naturalmente debochado à agilidade símia, conduzindo a momentos genuinamente engraçados e visualmente impactantes.
O próprio diretor/coreógrafo vive o mestre dos punhos aleijados pela inveja do antagonista, interpretado por Lo Lieh. O duelo que ocorre logo no início do filme, entre os dois, com Leung utilizando o Tiě Shān, um aparentemente inofensivo leque, eu considero uma das melhores cenas no gênero.
A trama de vingança é convencional, porém, Leung injeta um peso filosófico/emocional pouco comum, focando na evolução do relacionamento de admiração mútua entre professor e aluno, um respeito tradicional na cultura chinesa, advinda dos ensinamentos éticos de Confúcio.
O roteiro equilibra muito bem o humor e o drama, com direito até ao gore, como no covarde ataque ao animal do mestre. Há também uma aura onírica, mérito da fotografia de Arthur Wong e dos cenários, especialmente aquele onde ocorrem os treinos ao entardecer.
Quando conheci estes clássicos dos Shaw Brothers, ainda criança, achava que treinamento cruel era o “encere para direita, encere para a esquerda” do mestre Miyagi, ou o Jean-Claude Van Damme chutando bambus em “Kickboxer”.
O treinamento do jovem em “O Mestre do Kung-Fu”, diferente do que acontece em “A Câmara 36 de Shaolin”, é fundamentado na realidade, o que é sempre mais interessante.