Rainha e País (Queen and Country – 2014)
O diretor John Boorman retorna ao universo semibiográfico de “Esperança e Glória”, de 1987, com uma visão encantadora da Inglaterra da década de 50, pintada em tintas fortes de farsa, defendida por personagens caricaturais e diálogos espirituosos, com o roteiro encontrando humor nas situações mais desesperadoras.
O resultado não iguala o anterior, essencial para a compreensão da trama de “Rainha e País”, porém, é importante perceber como o cineasta, após oito anos de descanso, retorna com a mesma segurança.
O amor pelo cinema, como evidenciado na imagem com que ele escolhe terminar sua história, move cada cena, uma abordagem que me remete aos trabalhos de Wes Anderson.
A trama mostra a juventude daquele menino que havia agradecido Hitler por ter bombardeado sua escola. Bill, vivido corretamente por Callum Turner, está se acostumando com a ideia de, por obrigação da idade, prestar seus serviços ao exército, durante a Guerra da Coréia, um verdadeiro tormento que obriga o jovem a se afastar de sua namorada e de sua rotina bucólica. Como em “M.A.S.H.”, de Robert Altman, a narrativa é episódica e o foco é intimista, a preocupação maior é fazer rir dos flertes românticos desajeitados do protagonista e de seu melhor amigo, vivido por Caleb Landry Jones.
O senso de nostalgia é o que move as ações, o vínculo emotivo com o protagonista, uma visão distanciada do próprio diretor, disfarçando pequenos furos e potencializando detalhes curiosos, como a forma com que ele apresenta os militares como personagens quase saídos de um desenho animado, vários tons acima do resto do elenco, numa crítica elegante. O constante conflito entre a disciplina artificial militar, representado especialmente pelo sargento, vivido com competência por David Thewlis, e a rebeldia típica da juventude.
Não é um filme memorável, mas, na pior das hipóteses, fará com que o público resgate “Esperança e Glória” das gavetas empoeiradas da história cinematográfica.