A Festa de Despedida (Mita Tova – 2014)
O que não me sai da cabeça após a sessão, dentre todas as emoções despertadas por esse lindo filme israelense, é a ideia de um homem que se predispõe a aliviar o sofrimento de estranhos, enquanto parece ignorar a gradativa perda da sanidade de sua amada esposa.
O conceito de que ele, confrontando as leis naturais com sua máquina de eutanásia, está operando uma fuga da sua própria realidade, reveste a trama com uma camada extra de complexidade psicológica.
Os diretores Tal Granit e Sharon Maymon, com tremenda sensibilidade, comandam uma aula de construção de personagens, sem caricaturas, elementos que agem de forma orgânica e inesperada, num equilíbrio perfeito de humor e drama, vale salientar, em doses muito corajosas.
Uma visão emocionalmente madura sobre um tema muito espinhoso, executada sem gordura extra, o que é cada vez mais raro. Existem poucas histórias que realmente precisam de mais de 90 minutos, três atos definidos em um roteiro bem escrito. Nesse caso, a criatividade comporta até mesmo um singelo e surrealista interlúdio musical, conduzido pelos falecidos, um recurso que ganha pontos por ser inserido de forma segura.
Enquanto o tematicamente similar: “Amor”, de Michael Haneke, era extremamente contundente na manipulação de sua mensagem, “A Festa de Despedida” consegue ser tão brutal quanto, ao explorar as dificuldades que acompanham o crepúsculo humano, mérito da impecável atuação de todo o elenco, porém, evita estabelecer um julgamento moral sobre como alguns decidem lidar com o sofrimento. O roteiro, ao compor arcos de personagens essencialmente inconstantes, realistas, entrega para o público uma grande variação de argumentos divergentes.
O foco não é a finitude, ou como devemos lidar com o sofrimento, mas sim, com a importância de saber viver com qualidade o pouco tempo que compartilhamos nessa incrível experiência. Cenas como a da reunião nudista, reforçam o valor do companheirismo entre soldados cansados da longa batalha em uma trincheira que será invadida, em breve, pelo exército inimigo.
Uma resposta inteligente e adulta para outros projetos mais celebrados, como “Para Sempre Alice”, que disfarçam o tom exploitation da miséria, com uma abordagem que se leva a sério demais, o que desumaniza os personagens. É, com sua humanidade tocante, um dos filmes mais lindos do ano.
Excelente longa,onde a escolha de partir é separada das eternas obrigações e possíveis castigos advindos de teoricismos impostos.A morte em si não é a protagonista,mas o direito de se negociar com ela…e da melhor forma possível.Recomendo.