O Pesadelo – Paralisia do Sono (The Nightmare – 2015)
A princípio, a execução do tema parece ser simplória, o
recurso de depoimento seguido por uma reencenação soa repetitivo, mas, por
algum motivo, o interesse se mantém. Conheci o trabalho do diretor Rodney
Ascher através do engenhoso “O Labirinto de Kubrick”, então, quando soube que
ele exercitaria sua criatividade no fascinante tema da paralisia do sono, eu
fiz questão de prestigiar. Quem for à sala escura buscando um documentário
padrão, vai se decepcionar, pois, felizmente, nada nele é real. Todos os
depoentes são atores recitando um roteiro. O interesse do diretor, assim como
no trabalho anterior citado, consiste na elaboração meticulosa do truque, no
poder de sugestão criado artificialmente pela câmera.
A vida real é chata, comum, e os seres humanos, conscientes disso, aprenderam a
depositar todas as suas esperanças em rituais, do manto do padre ao jaleco
branco do médico. Quando pensamos que o filme irá abordar o fenômeno como uma
desordem cientificamente explicável, uma imobilidade muscular causada por duas
substâncias químicas no cérebro durante o estado REM, o roteiro nos joga
novamente para os braços da fantasia, com uma ótima fotografia, de Bridger
Nielson, que utiliza generosamente a cor vermelha, o que me remeteu
diretamente, em várias cenas, aos trabalhos de Mario Bava. É muito eficiente a
forma como a obra consegue criar, abusando de enquadramentos bizarros, um senso
de pavor que, nesse período fraco para o gênero do terror, poucas tramas
conseguem igualar.
As vítimas são filmadas com pouca luz, por vezes, dando a impressão maravilhosa
de que, a qualquer momento, algo sobrenatural irá emergir das sombras e
interromper a gravação. Ótimo experimento em estilo e substância, despertou
ainda mais o meu interesse em acompanhar a carreira desse diretor.