Obsessão Macabra (The Premature Burial – 1962)
O roteiro, sem elementos paranormais, trabalha o medo real da catalepsia, a obsessão do estudante de medicina, vivido com a elegância usual por Ray Milland, que, temendo ser vitimado pelo que parece ser uma maldição familiar, começa a planejar uma forma prática de evitar qualquer risco de ser enterrado vivo.
Até mesmo a melodia tocada no piano por sua esposa, a bela Hazel Court, musa dos estúdios Hammer, consegue provocar náusea nele, já que se assemelha demais com a música que escutou sendo assobiada por um coveiro. Dentro do ciclo de adaptações de Edgar Allan Poe dirigidas por Roger Corman, acredito ser o roteiro mais fiel à essência do terror psicológico do original, com o protagonista recitando os trechos mais perturbadores que o autor utilizou para definir este pavor primitivo.
E, visualmente, considero o mais ousado, com uma ótima sequência onírica, plena em ângulos inclinados de câmera, lentes distorcidas, filtros azulados e efeitos de luz, criativamente sublimando o baixo orçamento, tentando traduzir imageticamente o pior pesadelo do personagem, encarando a fragilidade de suas várias estratégias de burlar seu medo. A floresta enevoada, um elemento constante no ciclo, contribuição da direção de arte de Daniel Haller, ajuda a estabelecer o clima único dessas produções.
Sem a teatralidade excessiva de Vincent Price, o roteiro ganhou tridimensionalidade nas atitudes dos personagens principais, uma camada de realismo fundamental nesta história, o que agrega valor à reviravolta que ocorre no terceiro ato.