Acho válido dar minha
opinião sobre a polêmica do racismo no Oscar… Mas, antes de qualquer coisa, afirmo
que a real questão importante deveria ser: Quem se importa com Oscar? A
premiação televisiva, o show fracamente roteirizado que vive de lobby e precisa
de bons índices de audiência, nunca foi parâmetro de qualidade no cinema,
apenas para aqueles cinéfilos de final de semana, que colecionam as edições
comemorativas em DVD e Blu-ray dos filmes vencedores e compram aqueles
livros-guia da moda.Ficar discutindo quem deveria levar a estatueta
dourada, a meu ver, é tão desinteressante quanto uma mesa redonda de futebol.
E, obviamente, essa polêmica toda comprova a tolice inerente ao evento. O
absurdo não é a lista de finalistas com um punhado de brancos, mas, sim, o fato
de se criar uma disputa entre um punhado de artistas, defendendo propostas
completamente diferentes, objetivando um conceito subjetivo de “melhor”. A
festa deveria ser uma celebração emotiva, não uma competição. Dustin Hoffman,
em um discurso brilhante, algo também cada vez mais raro, deu uma aula sobre
essa questão. Segue o vídeo abaixo:
Bom, dito isso, não costumo dar muita bola para as
reclamações do Spike Lee. Caso um dia o racismo seja obliterado da nossa
realidade, ele não terá mais assunto. E nas poucas vezes em que tentou abordar
temas diferentes, demonstrou completa insegurança. Ele é uma das vozes mais
exaltadas nessa polêmica, já disse que não vai comparecer ao evento, mesmo
tendo recebido no ano passado um prêmio honorário pelo conjunto de obra.
Opinião bem pessoal, sem misturar o lado profissional com as atitudes dele
enquanto cidadão, eu considero ele um tremendo chato. Quisera ele entregasse
melhores filmes, ao invés de aparecer constantemente jogando lenha na fogueira.
O caso vai além dele, claro, nomes como Will Smith e Mark Ruffalo também
aderiram ao coro. Um pouco de lucidez ajudaria a compreender a tolice de todo
esse circo midiático. Esquecendo por um momento do quão hilário é o conceito de
selecionar, sei lá, dez artistas em cada categoria, na busca pelo “melhor”,
imagine se a Academia começar a se preocupar em agradar todos aqueles que podem
vir a reclamar. Teremos então, todo ano, uma lista de dez artistas em cada
categoria, com a necessidade social de incluir brancos, negros, representantes
do meio-termo, deficientes físicos e estrangeiros. Em um ano onde nenhum ator
negro se destacou nos filmes selecionados, vale compensar incluindo dois
latinos? Como manter um mínimo de credibilidade no julgamento (ainda praticando
aquele suspender da descrença), quando há várias regras não oficiais que fogem
dos méritos de qualidade artística? É uma grande bobagem, estimulada, não seja ingênuo, por impulsos egocêntricos. Os artistas de Hollywood, assim como os nossos globais ativistas de butique, estão mais preocupados com seus próprios salários.
A representatividade da mulher na indústria, o fato
vergonhoso das atrizes ainda ganharem menos financeiramente que os homens, isso sim é um
problema sério que precisa ser discutido. E, veja só, as mulheres nunca foram
esnobadas pelo Oscar, sempre houve a categoria “Melhor Atriz”, com toda a pompa do red carpet e os vestidos analisados, o quenão impediuque
elas fossem desrespeitadas profissionalmente todos esses anos. Ter mais negros
dentre os indicados nas premiações, quando não for algo conquistado por mérito,
não ajudará a melhorar o problema do racismo na indústria. O respeito não nasce
com sistema de cotas, por mais bem intencionada que a medida seja. Antes de
abraçar a euforia midiática, questione, estude, pratique a lucidez. E,
finalizando, uma sugestão sincera, por gentileza, pare de reduzir a beleza do
cinema a esse anual show pirotécnico vazio e pouquíssimo inspirado. Oscar,
Globo de Ouro e Os Melhores do Ano do Faustão, tudo farinha do mesmo saco.
Deixe de lado a empoeirada coleção de vencedores e vá conhecer as filmografias
completas dos cineastas que nunca foram valorizados nessas premiações. Seja um
cinéfilo, não um viciado em jogos. Ah, e sobre o racismo no Oscar? Prefiro ver
negros e brancos nos sebos, nas bibliotecas, buscando sempre o
autoaprimoramento. Somente assim, com educação e senso crítico, teremos uma
sociedade livre do racismo. Um negro a mais ou a menos na tola festa anual de
Hollywood não vai mudar absolutamente nada…
Bravo!