A “segunda fase”, que vai dos nove aos treze anos, acaba se mostrando a mais interessante, com relação à experiência compartilhada entre pais e filhos, já que a interação ganha contornos mais intelectualmente conscientes. O filme deixa de ser algo apenas fascinante, para se tornar o centro de uma discussão.

É importante que os pais estimulem nos filhos o raciocínio lógico, o embate argumentativo, o clássico: “explique melhor…”. É o momento certo para apresentar trabalhos como o do grupo inglês Monty Python. Recomendo inicialmente “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado”, de 1975, uma hilariante visão sobre as aventuras do Rei Artur, um tipo de nonsense maravilhoso que seus filhos nunca irão encontrar no entretenimento preguiçoso realizado hoje, com o desprezível politicamente correto tomando conta de praticamente tudo. E, como sempre digo: quando o tempo presente é lastimável, não abrace a mediocridade, vasculhe o passado.

Quem me apresentou esse grupo inglês foi Luís Felipe, meu professor de História em um colégio de freiras, um herói que ludibriou a supervisora dizendo que “A Vida de Brian” tinha bonitas mensagens católicas. Ele ensinou, com essa atitude, que o cabresto nunca é uma opção válida. Até hoje eu me recordo da gargalhada coletiva da turma em vários momentos do filme, enquanto as freiras vigiavam do lado de fora da sala, tentando entender o motivo de tanta alegria, afinal, nunca havíamos nos comportado assim nas exibições usuais de filmes religiosos e do “Telecurso”. O filme que tínhamos visto na semana anterior era “Marcelino, Pão e Vinho”.

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Em 2002, alguns anos depois da minha formatura no ginásio, esse grande homem faleceu enquanto dava aula em outra escola, tentando proteger seus alunos de bandidos. Ele amava cinema e citava trechos de canções da banda Legião Urbana em sala de aula. Seja como esse professor com seus filhos, incentive-os a rir de tudo aquilo que, em teoria, “não se deve rir”. O medo nasce sempre que um dogma é martelado na mente de uma criança. Os dogmas só servem para aprisionar o ser humano. Sente no sofá com eles e se divirta. Quando os filhos estiverem mais velhos, já na “terceira fase”, que abordarei no próximo texto, apresente a eles “Monty Python – O Sentido da Vida”.

Nada melhor que apresentar seus filhos nessa fase à jornada de superação de Rocky Balboa. É impressionante como uma maratona dos seis filmes pode impactar positivamente o pré-adolescente. Testei com meus dois afilhados, um casal de oito e dez anos. Eles ficavam cantarolando o dia inteiro a trilha sonora e não podiam ver uma escadaria, corriam os degraus, davam socos no ar e diziam que estavam treinando. O menino se emocionou muito com o final de “Rocky 2”, a menina pediu de presente os DVD’s. As cenas de boxe empolgam, fizeram com que eles pulassem do sofá, porém, o que eles comentavam após as sessões é o coração da trama, “o Rocky é tão bonzinho”.

Ao final da luta do original, quando o Rocky empata, eles reclamaram: “Mas ele não ganhou?” Então expliquei o grande ensinamento do filme: a questão importante não é vencer, mas, sim, seguir vivo na luta da vida, aguentando os golpes e batendo de volta, até o gongo final. Eles entenderam. Subestime seus filhos e receba menos do que imaginava, trate-os como adultos em formação, que, com certeza, você será surpreendido.

Algumas sugestões de sessões despretensiosas, em diversos gêneros, filmes que eu conheci nessa “segunda fase” e que fortaleceram a minha paixão por cinema: “Splash – Uma Sereia em Minha Vida” (numa fita VHS gravada por meu pai de uma exibição na Globo), “Robocop – O Policial do Futuro” (mesmo caso do anterior), “Superman – O Filme” e “Superman 2”, o primeiro “Batman” de Tim Burton (provavelmente o VHS que mais aluguei na vida), “Greystoke, A Lenda de Tarzan”, “Rambo 2 – A Missão”, “Hellraiser” (antes de alugar, ficava admirando a capa do VHS por horas).

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“Bala de Prata” (clássico da noturna “Sessão das 10” e do vespertino “Cinema em Casa”, ambos do SBT), “O Exorcista” (recomendo que veja após a leitura do livro original de William Peter Blatty), “Trinity é Meu Nome” (dentre outros clássicos da dupla Terence Hill e Bud Spencer, excelentes introduções ao gênero do faroeste), “Os Saltimbancos Trapalhões”, “Cantando na Chuva”, “S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço” (John Candy e Mel Brooks, combinação perfeita), “Jornada nas Estrelas” (os seis filmes com a tripulação clássica), “Meu Primeiro Amor”, “Karatê Kid – A Hora da Verdade” e “Karatê Kid 2” (eu sentia profunda identificação com o protagonista, no auge da minha experiência com o bullying), e, claro, “Curtindo a Vida Adoidado”.

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Faço questão de destacar um dos filmes mais marcantes da minha pré-adolescência, uma das fitas VHS que mais tempo ficava dentro do aparelho: “Inimigo Meu”, excelente ficção científica dirigida por Wolfgang Petersen. Uma trama que lida com as diferenças, abordando a importância da união, a convivência destruindo os preconceitos. O roteiro tem camadas de interpretação que vão sendo mais bem absorvidas em revisões, garantindo muito pano para manga em debates filosóficos após as sessões.

Literariamente falando, esse é o momento ideal, caso ainda não o tenha feito, para apresentar aos seus filhos o rico universo da fantasia/ficção científica, com livros como “Harry Potter”, “1984” e “Fahrenheit 451”, e, numa dobradinha com o filme, “Jurassic Park”, de Michael Crichton. Outra opção muito boa é “Operação Cavalo de Troia”, de J.J. Benítez.

É chegado o momento mágico, inesquecível para pais e filhos, de presentear seus pré-adolescentes com duas trilogias espetaculares: “De Volta Para o Futuro” e “Indiana Jones” (sim, não contabilizo o quarto filme). Já na passagem da “segunda fase” para a “terceira fase”, seus filhos estarão na idade certa, eles irão aproveitar plenamente todos os aspectos dos filmes.

Como sugestão, com relação ao arqueólogo mais querido do mundo, indico que inicie com “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, meu favorito até hoje, depois mostre “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Indiana Jones e a Última Cruzada”.

Continua…



Viva você também este sonho...

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