Hausu (1977)
Garota briga com o pai e decide passar umas férias na casa de sua tia com suas amigas, porém a casa é mal-assombrada pelo fantasma da tia.
Um dos meus pecados cinematográficos era não ter visto “Hausu”, já havia lido muito sobre ele, mas a fita nunca foi lançada em VHS, ou DVD, e na época do auge do garimpo na internet eu não encontrei uma boa cópia dele com legendas em inglês.
Graças ao trabalho maravilhoso da “Versátil”, a curadoria altamente competente do Fernando Brito, consegui saciar essa curiosidade. E devo confessar que estou completamente apaixonado pelo filme. Assisti duas vezes na mesma noite. Não dá pra descrever a trama sem desvalorizar a força estética dessa pérola do diretor Nobuhiko Obayashi, o importante é você entrar no clima proposto e se preparar para ser surpreendido a cada sequência.
A trilha sonora de Asei Kobayashi e Mickie Yoshino capta perfeitamente o tom da história, um conto de casa mal-assombrada que se descortina através do imaginário de uma criança, a ideia partiu da filha pequena do diretor. Os variados efeitos utilizados, cenas que ultrapassam os limites da imaginação, são propositalmente cartunescos e pensados para enfatizar a irrealidade nas situações, quase como se fossem o resultado de um trabalho artesanal infantil. Basta dar uma olhada em algumas tiradas bizarras de Sam Raimi em “Evil Dead 2” para perceber que ele bebeu dessa fonte.
As sete meninas, cada uma simbolizando estereótipos de diferentes aspectos de personalidade, são cativantes. Obayashi ousou ir contra a tradição dos respeitados mestres do cinema japonês, não se levou a sério como os contemporâneos da “nova onda” da década de 60, por conseguinte, criou uma peça única, ousada e rebelde, que seguirá radicalmente irreverente até mesmo se for exibida para um grupo de jovens descolados em 2100.