O Homem nas Trevas (Don’t Breathe – 2016)
O ano está sendo generoso com os apreciadores do terror, no que me incluo, com pelo menos uma obra-prima, “A Bruxa”, e pérolas como esse “O Homem nas Trevas”, do uruguaio Fede Alvarez. O preciosismo técnico na composição das imagens, desde a impecável sequência inicial, e o timing certeiro, fugindo da preferência usual medíocre pelos imediatistas jump scares, evidenciam a compreensão de que o medo só pode ser verdadeiramente eficiente quando é a resposta natural para a tensão alcançada em um suspense bem elaborado.
A ideia da trama não é extremamente original, o recente “Intruders” trabalha estrutura similar, mas a esperta execução é o elemento que surpreende o espectador, com a ajuda da fotografia refinada de Pedro Luque. Quem assistiu a refilmagem de “A Morte do Demônio”, o projeto anterior do diretor, sabe que o horror psicológico não é o forte dele, a atenção está voltada para o choque sádico, uma pegada menos pretensiosa artisticamente e altamente funcional.
Há espaço para alegorias, como a cegueira do veterano de guerra vivido por Stephen Lang, a resistência solitária de um conservador perante a invasão promovida por um grupo de jovens ladrões em sua residência, a única que se manteve viva em um bairro abandonado, algo que pode ser lido em uma camada de interpretação menos óbvia como uma analogia à participação dos soldados norte-americanos em guerras, em que o interesse é puramente financeiro, sobrando espaço também para uma sutil crítica à triste validação da violência urbana como forma justificável de protesto.
Como era de se esperar em um filme cujo leitmotiv é a claustrofobia social, o foco está em potencializar os sentidos, a movimentação da câmera faz da casa um personagem, o único unidimensional em um roteiro que prima por estabelecer motivações tridimensionais nas personalidades de cada jovem, nada de estereótipos simplórios, o que já é um valioso mérito.