Manchester à Beira Mar (Manchester by The Sea – 2016)
As escolhas estéticas do diretor Kenneth Lonergan acabam boicotando a forte carga emocional da trama, como se ele não confiasse que a história, por si só, conseguiria impactar o espectador. O ritmo é truncado, prejudicado especialmente no primeiro ato por uma montagem que confunde em seu desejo de evitar a narrativa linear, alternando períodos de tempo em poucos segundos, atrapalhando a importante conexão com o protagonista.
A sinopse é linda, essencialmente lidando com conflitos intimistas de uma alma torturada, mas a paciência tem limite, quando todas as situações, simples e complexas, são intensificadas sensorialmente pela trilha sonora, tudo se banaliza, em suma, irrita ao invés de gerar empatia. O trabalho da compositora Lesley Barber é agradável de se escutar fora do contexto, porém, altamente intrusivo na obra, por exemplo, na cena em que Lee (Casey Affleck) dá um depoimento na delegacia. É tão artificial que beira a sátira, assim como na
sequência da tragédia que modifica sua vida, a música implora pelas lágrimas sem necessidade alguma, o momento já é forte o bastante. É triste perceber o potencial desperdiçado, a longa duração falha em estabelecer o básico com competência, um problema que é amenizado no terceiro ato.
O melhor aspecto do filme é a atuação de Affleck. E só funciona tão bem exatamente porque encontra no impecável Lucas Hedges, que vive Patrick, o sobrinho adolescente que se torna sua responsabilidade após o falecimento do irmão, o extremo oposto de sua
caracterização. Um adulto que comete suicídio psicológico e vaga sem destino, um adolescente que está disposto a não permitir que seu espírito seja abalado pela morte do pai. Estes dois elementos ricos em autenticidade naufragam no oceano de pretensiosismo executado da forma mais criativamente preguiçosa.
A sequência do reencontro agridoce entre Lee e sua ex-esposa (Michelle Williams, incompreensivelmente subutilizada) em uma cerimônia religiosa não poderia ser mais afetada, o maravilhoso “Adágio”, de Albinoni, merece ser aposentado cinematograficamente. O clichê se completa perfeitamente com a utilização brega e interminável do recurso da câmera lenta.