A Filha Americana (Amerikanskaya Doch – 1995)
Abandonado pela mulher que decide viver com um americano rico no país do Tio Sam, músico russo vai ao seu encontro, dez anos mais tarde, visando restabelecer os laços com a filha pré-adolescente.
Alguns textos estrangeiros criticam, por exemplo, a forma como a pequena menina é esperta demais para sua idade, uma grande bobagem, somente profissionais muito insensíveis são incapazes de enxergar que a proposta da obra é ser como uma fábula cômica, não há qualquer traço de realismo na abordagem, poxa, o desfecho entrega uma criança pilotando um helicóptero! Conheci o filme por intermédio da CPC – UMES filmes, que está realizando um belíssimo trabalho resgatando clássicos e pérolas modernas do cinema russo. Gostei de “Tigre Branco”, do mesmo diretor, mas “A Filha Americana” me encantou sobremaneira com sua simplicidade de roteiro e execução.
Karen Shakhnazarov é muito versátil, ele desta feita propositalmente bebe da fonte dos melodramas norte-americanos, apostando em soluções narrativas cômicas corriqueiras nestes trabalhos, sem qualquer toque de cinismo, o tom é de reverência. Na época da produção, após a queda de União Soviética, a relação entre as duas nações começava a dar sinais de vida, a filha americana, vivida pela adorável Allison Whitbeck, que, vale salientar, carrega o projeto nas costas com impressionante carisma, representando a intenção sincera de união.
Há um momento maravilhoso que representa bem este leitmotiv, o pai, vivido por Vladimir Mashkov, após fugir com a filha, relaxa em um bar nos Estados Unidos cantando em russo, os clientes felizes, genuinamente interessados na arte do estranho. Aquelas pessoas não conhecem a canção, sequer compreendem a letra, mas se divertem com a melodia. Ao ver uma bela garçonete, ele, emulando Elvis Presley, canta “Love me Tender” em inglês, colocando carinho em cada palavra, o clima no ambiente é de amor e respeito.
A cena evidencia que a união entre culturas diferentes é sempre o melhor caminho, o fascínio em tentar compreender o outro, ao invés de alimentar o medo do desconhecido.
* Você encontra o filme em DVD e, claro, garimpando na internet.