Loja do Doido (Trouble in Store – 1953)
Norman Wisdom, Norman Sapiência, sobrenome perfeito para a comédia, especialmente considerando que o tipo que o tornou famoso é um tremendo pateta, espécie de Jerry Lewis britânico que nunca chegou a ser muito conhecido no Brasil, apesar de ter salvado a indústria de seu país durante a década de 50.
O garimpo na internet me possibilitou entrar em contato com suas obras, que não foram lançadas por aqui nem em VHS. Ele fez mais de quinze filmes, foi citado por Charles Chaplin como seu “palhaço favorito”, mas a qualidade das obras varia muito, o seu melhor momento está registrado em “Loja do Doido”, a sua premiada estreia, em que recebeu o BAFTA de revelação mais promissora do ano, um exagero, grande parte do mérito da obra está na criatividade visual da direção, gags como a do carro e da bicicleta logo no início.
A voz aguda dele em situações de desespero, a gargalhada contagiante e a personalidade ingênua são características muito similares às que facilmente identificamos no tipo que Lewis já defendia nas produções da Paramount com Dean Martin, mas é possível que Frank Tashlin tenha se inspirado neste filme para trabalhar o conceito de “Errado pra Cachorro”, realizado dez anos depois e protagonizado por Lewis, também ambientado em uma loja de departamentos.
A trama é simples, Norman, que trabalha no almoxarifado, conhece o novo chefe e já comete uma tremenda gafe, o que faz com que seja despedido. Ele então passeia pela loja, tomando laranjada num saloon estilizado do velho oeste, ajudando indiretamente nos furtos de uma idosa (a respeitada Margaret Rutherford) bastante ousada, declarando desajeitadamente seu amor de forma musical para uma jovem atendente, até que consegue seu emprego de volta, o que abre diversas possibilidades cômicas, pastelão de alto nível, como a ótima sequência em que tenta provar sua competência como vitrinista.
Uma pérola que merece ser redescoberta pela nova geração.