O Bar (El Bar – 2017)
Quem não conhece a obra do diretor espanhol Álex de la Iglesia, precisa urgentemente entrar em contato com “Balada do Amor e do Ódio”, “A Comunidade” e, principalmente, “O Dia da Besta”.
O seu novo projeto, “O Bar”, traz sua inimitável verve irônica com toques generosos de terror, uma identidade autoral facilmente reconhecível logo nos primeiros minutos desta fantástica alegoria. Estranhos tipos que se cruzam em um bar, caricaturas de diferentes classes sociais, idades e posicionamentos políticos, impedidos de sair pelo medo que sentem do desconhecido, motivados pelo ódio que extravasam ao primeiro sinal de perigo.
A união diante da ameaça, bela utopia, dá lugar ao egoísmo extremo. O elemento externo, o ceifador que elimina rapidamente qualquer um que ouse deixar o local, existe como necessidade narrativa para suscitar discussões valiosas, especialmente nos tempos atuais, em que dignitários irresponsavelmente celebram o confronto, construindo muros ao invés de pontes.
Os personagens, em questão de minutos, passam a desconfiar de tudo e todos, facilmente expondo preconceitos arraigados e alimentados por compreensões rasas de manchetes sensacionalistas, a simples convivência se torna o maior desafio. A barba grande do jovem hipster é motivo para que todos acreditem que ele é um terrorista. O mendigo que, no cotidiano, já era tratado como peça irrelevante no cenário, passa a ser visto como opção única para o sacrifício, ele não merece estar vivo. E, inteligentemente, o roteiro vai desenvolvendo os personagens no segundo ato, subvertendo estereótipos, conduzindo os sobreviventes ao esgoto, escuridão e excremento, forçados a abandonar ego e ilusões sociais.
A razão para o caos pouco importa, espertamente não há esforço no sentido de explicar o que acontece fora daquele microcosmo, o foco é mostrar o medo como elemento de controle social, a interação das vítimas do fenômeno, basta analisar a nossa realidade diária para perceber que o ser humano não precisa de motivos para apedrejar, segregar e odiar, está em sua natureza. Se você prestar atenção na simbologia do desfecho, vai entender que o bar, as pessoas que estavam dentro dele, não qualquer força sobrenatural ou vírus apocalípticos, representavam perigo real para a sociedade.
A negação da empatia, a rapidez no julgamento sem embasamento, a cultura de uma vida de aparência, a lucidez sendo subjugada pelo pensamento extremista, o desinteresse pelo aprimoramento intelectual constante. O vilão é o reflexo no espelho.