Mulheres à Vista (1959)
“O negócio é perguntar pela Maria.” – Estratégia infalível do protagonista para iniciar conversa com belas mulheres.
O malandro João Flores (Zé Trindade) tenta seduzir uma viúva rica (Estelita Bell) querendo que ela patrocine o show de um grupo de artistas abandonados por um empresário desonesto. Esta chanchada da Herbert Richers, com argumento de Chico Anysio e Zé Trindade, e direção do sempre competente croata J.B. Tanko, registra o melhor momento do poeta baiano no cinema, quase sempre eclipsado por seus colegas nas páginas da História, um tipo caricato que poderia ter saído dos traços de um gibi, encantador, esperto e mulherengo, ele resolve tudo na lábia.
Auxiliado por Grande Otelo e Consuelo Leandro, ele alcança o equilíbrio perfeito que faz de seu vigarista do bem uma presença inesquecível. Sem dinheiro, mas cheio de sonhos, ele coloca em prática um plano que sintetiza o instinto de todo empreendedor artístico nacional independente, mover montanhas e fazer qualquer negócio para conseguir realizar seu objetivo, o retrato fiel do amadorismo apaixonado da indústria na época.
Dentre as várias sequências musicais, destaco a simpática canção-título interpretada por Grande Otelo, com boa trucagem visual, além da presença do grande Nelson Gonçalves, cantando a bela “Arco-Íris”. Há um momento breve e muito interessante que ressalta a criatividade do diretor, a cena que envolve uma transição temporal com o auxílio de um quadro na parede, mostrando um peixe no prato. E vale destacar também a composição visual da personagem da governanta sisuda, um óbvio deboche com a figura da Sra. Danvers (Judith Anderson), de “Rebecca – A Mulher Inesquecível”, de Hitchcock.
“Caiu na risada, considero castigada.” – Zé, analisando a eficiência da cantada.
Ao ser obrigado no final a desempenhar vários papéis na orquestra do teatro, Zé faz com que o espectador gargalhe da precariedade de sua produção, a realidade de todos os profissionais que lutavam no cinema nacional com garra tremenda e que conseguiam entregar seus filmes contra todas as probabilidades, um exercício de metalinguagem atípico e que engrandece a obra.
Adorei seu texto sobre ‘Mulheres à vista’, principalmente sobre a ‘conexão’ Mrs. Denvers do Hitchcock e a metalinguagem do Zé Trindade tocando todos os instrumentos da orquestra. Seu ‘insight’ vem justamente provar minha tese de que os colunistas de ‘cadernos Bs’ dos jornais da época não entendiam bulufas de cinema (ou política) e nem tampouco da arte de escrever (jornalismo). Parabéns. Citei partes de seu texto em minha postagem sobre o filme. Parabéns!
Grato pelo carinho com o meu trabalho, Luiz. Espero contar sempre contigo.
Abração!