O Voo do Dragão (Meng Long Guo Jiang – 1972)
Único filme roteirizado e dirigido por Bruce Lee, produzido pelos estúdios Golden Harvest e por sua própria Concord, fundada com Raymond Chow no ano anterior.
É curioso perceber que ele dedicou os primeiros vinte minutos à sua faceta menos reconhecível, da chegada do personagem em Roma, até o seu primeiro encontro com os funcionários do restaurante do tio que pedem sua ajuda contra os mafiosos liderados pelo hilário efeminado vivido por Ngai Ping-ngo, o roteiro se resume a sequências episódicas de humor, quase todas sem diálogos, opção eficiente e corajosa, com direito a momentos encantadoramente constrangedores, o lado humano e frágil do astro que seria imortalizado pela figura mítica do guerreiro indestrutível.
É uma pena que Lee não tenha tido tempo para evoluir como roteirista/diretor, este primeiro trabalho comprova que seu talento não se resumia à eficácia impressionante de sua técnica marcial, ou seu carisma matador, o jovem tinha estofo cultural/filosófico, consciência cênica e um senso de humor muito espirituoso.
O grande momento, a luta final contra Chuck Norris no Coliseu, não é reconhecida como o melhor momento do gênero no cinema à toa, tudo nela é épico e simbolicamente profundo. A execução da cena foi complicada, porque eles não tinham permissão para filmagem no local, eles precisaram de três longos dias para completar a sequência, a equipe recebia ameaças constantes, mas ninguém se atreveu a desafiar o chefe.
O que me emociona mais no filme é a forma respeitosa com que o protagonista dedica segundos preciosos para honrar o inimigo abatido, algo que diz muito sobre o caráter de Bruce Lee. Em qualquer trabalho do gênero, o vilão é arremessado no moedor de carne mais próximo, mas o jovem dragão faz questão de pegar o kimono dele no chão, voltar até o corpo e depositar o manto sobre ele com uma oração silenciosa.
A honra do artista marcial nunca foi tão bem demonstrada no cinema.