Cyborg – O Dragão do Futuro (Cyborg – 1989)
Num mundo pós-apocalíptico, a humanidade está contaminada por um vírus que provoca fome e doenças nos poucos habitantes que ainda restam na Terra. Uma ciborgue que pode ter a chave para a cura é protegida por um guerreiro mais forte.
Teve uma fase na minha adolescência em que eu fiquei viciado nos filmes do Jean-Claude Van Damme, toda visita à locadora de vídeo era garantia de voltar com pelo menos um de seus trabalhos. Eu me recordo de um papo descontraído com um atendente mais velho, já na casa dos cinquenta anos, que recomendava fortemente este “Cyborg” como sendo o seu favorito.
A versão em VHS dele tinha a fotografia tão escura, que eu nem compreendi a trama, logo, achei curiosa esta predileção. Anos mais tarde, quando revi em DVD, consegui enxergar tudo, especialmente os seus problemas, mas fiquei fascinado pela produção conturbada.
O picareta estúdio Cannon preparava “Mestres do Universo 2” e a aguardada versão live action de “Homem-Aranha”, na época em que lugar de super-herói era mofando na prateleira das locadoras. O diretor Albert Pyun estava condenado a comandar estas potenciais bombas, mas o orçamento apertou, a Mattel (responsável pelos bonecos do He-Man) e a Marvel (editora do aracnídeo) pisaram no freio e desistiram das empreitadas cinematográficas.
O estúdio já tinha torrado uma grana alta na pré-produção e tiveram a brilhante ideia de utilizar todo o material que estava pronto, como figurino, armas, cenários, em um novo roteiro, protagonizado pelo rapaz belga que havia enchido os cofres do estúdio no ano anterior com “O Grande Dragão Branco”. Levando em consideração tudo isto, sem exagero, Pyun conseguiu operar um pequeno milagre, já que “Cyborg – O Dragão do Futuro” é, apesar de tudo, uma boa aventura sci-fi pós-apocalíptica.
A utilização do silêncio, provavelmente preguiça do diretor que escreveu o roteiro às pressas, acaba sendo elemento positivo, ajudando na construção do clima verdadeiramente sombrio e pesado. As sequências de luta são bem coreografadas, nada espetacular, mas eficientes, com generosa utilização do recurso da câmera lenta.
Como curiosidade, um dos capangas do vilão, vivido por Jackson Pinckney, ficou cego de um olho após ser atingido por acidente com uma faca em um confronto com Van Damme. O ator chegou a ser processado, mas a cena fatídica ficou no corte final, já que o dinheiro era curto demais para refazer a tomada.
Pouco tempo depois da estreia o estúdio decretou falência, o que nunca é um bom sinal. Mas, por algum estranho motivo, gosto de rever este adorável desperdício de celuloide.