A Passagem da Noite (Night Passage – 1957)
O dinheiro destinado a pagar os empregados da ferrovia tem sido sistematicamente roubado por Whitey Harbin (Dan Duryea) e sua gangue. Grant McLaine (James Stewart), depois de ser despedido sem honra pela companhia férrea, é chamado de volta para impedir que o mesmo aconteça com o próximo pagamento. Grant consegue descobrir o esconderijo dos bandidos, mas agora tem que enfrentar Utica Kid (Audie Murphy), seu irmão mais novo, que faz parte da quadrilha.
A qualidade do filme é eclipsada pelos bastidores atribulados, com o rompimento da parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann, após oito excelentes projetos. Mann não gostava do coadjuvante Audie Murphy, veterano de guerra, tampouco apreciava o roteiro, que, de fato, parece ser uma desculpa para o protagonista demonstrar em várias cenas a sua habilidade com o acordeão, instrumento que era mais do que um hobby para o astro. Como era um dos produtores, nada ficaria em seu caminho. Ousado, Stewart se atreveu até a cantar, uma atividade que não era seu ponto forte. Revisto hoje, fora do contexto, enxergo nesta particularidade musical um dos grandes méritos da trama.
A direção de James Neilson, profissional que tinha experiência na televisão, compromete algumas sequências mais grandiosas em escala, filmadas em Technirama, porém, as minimalistas emocionais ele comanda com pulso firme, especialmente aquelas que envolvem os irmãos. O vilão vivido por Dan Duryea tem o elemento da caricatura reforçada pela atuação intensa, sempre três tons acima do restante do elenco. E como a cereja do bojo, a presença do jovem Brandon De Wilde, o menino de “Os Brutos Também Amam”, defendendo papel semelhante.
Vale destacar que, com uma ternura inexistente nas produções dirigidas por Mann, este faroeste é daqueles que, sem motivo aparente, acabam ficando na memória, como se o ouro estivesse no subtexto. Cenas como a do assalto no trem em movimento, além do tiroteio final, seguem tão eficientes hoje quanto em sua época.