Samantha! – Primeira Temporada (2018)
Criada por Felipe Braga, a série de sete episódios pode ser considerada uma evolução informal dos conceitos trabalhados no excelente filme “Bingo – O Rei das Manhãs”, de Daniel Rezende, que também contava com a força da natureza chamada Emanuelle Araújo, puro carisma, talento e beleza.
Na trama, Samantha, que havia sido líder do trio infantil “Plimplom” na década de oitenta, procura se agarrar ao pouco que resta de sua fama enquanto cria planos mirabolantes para voltar ao estrelato. A personagem defendida por Araújo é vivida na infância por Duda Gonçalves, corretamente acertando o tom caricatural que é o segredo do sucesso da obra. O roteiro nunca resvala no apelo usual do gênero pelas inserções de drama, denotando segurança no material. É uma comédia que vai com os pés na porta, abusando de nonsense e humor negro, com texto afiado e que encontra seu ápice no impecável segundo episódio.
Douglas Silva executa com extrema competência o equilíbrio entre o “se levar a sério” e aquela pisada funda na paródia vivendo Dodói, ex-jogador de futebol, ex-marido de Samantha que passou um tempo na prisão. Vale ressaltar a participação de Daniel Furlan, um jovem gênio do humor com timing avassalador que está começando a receber os justos aplausos por seu trabalho no “Choque de Cultura”, vivendo o empresário da protagonista, alguém que sabe que o melhor caminho para a fama rápida no país é afundar sem medo na lama. Sabrina Nonata e Cauã Gonçalves, que vivem o casal de filhos, sobrepujam leves escorregadas na pouca fluência naturalista de alguns diálogos com uma dose generosa de carisma.
A Netflix mostra com esta série várias razões para o desespero das emissoras de televisão brasileiras com sua existência e crescente sucesso. A pobreza de conteúdo, ídolos de barro com carisma fabricado, casais forjados pelos assessores de marketing e a vergonhosa falta de criatividade ao comprar formatos estrangeiros, “Samantha!” é uma crítica hilária que evidencia a péssima qualidade do nosso entretenimento televisivo, ontem e hoje. E a série aproveita para expandir a crítica a partir do quarto episódio abraçando também o culto aos vazios influenciadores digitais das redes sociais, a óbvia irrealidade dos “reality shows”, celebridades homossexuais que vendem a imagem de galãs mulherengos, a indústria tola dos paparazzi e o oportunismo lucrativo em causas como o ativismo ecológico e o feminismo midiático.
Apesar de perder um pouco o ritmo nos últimos dois episódios, o frescor contagiante da série, auxiliada pelo carisma do elenco, defendendo uma temática original com boa dose de nostalgia, merece aplausos de pé. O desfecho é um gancho excelente para abordar outra bizarrice típica em nossa sociedade, o envolvimento de subcelebridades com a política. Que venha a segunda temporada!
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