Sobre política e o microcosmo dos debates televisivos, este show desajeitado dos assessores e marqueteiros.
O problema principal na forma como o povo brasileiro enxerga a política é sintetizado com perfeição nestas transmissões, o modus operandi de infantilmente se focar em pautas polêmicas, como aborto, sexualidade, religião e drogas, enquanto o sistema apodrecido falha em oferecer com mínima qualidade necessidades fundamentais como saneamento básico, segurança, habitação e educação. O critério utilizado para escolher um candidato é a personalidade dele, considerando a opinião do mesmo sobre assuntos que ele sequer terá capacidade de resolver, caso seja eleito. É uma infantilização do pensamento político. O povo brasileiro age como crianças animadas com a chance de escolher a cor da pintura da parede da creche.
Os debates entregam exatamente o que o povo deseja (e, devido às décadas em estado de coma existencial, aquilo que consegue compreender), discussões rasteiras sobre temas que cabem com folga nos piores programas sensacionalistas. O reflexo cristalino desta atitude é perceptível no baixíssimo nível do material humano que, eleição após eleição, recebe a responsabilidade de (apenas em teoria, infelizmente) trabalhar por melhorias na nação. A resposta não está em um subjetivo candidato perfeito. Se você insere um indivíduo limpo em um mar de lama, não há dúvida, ele vai sair sujo.
Eu respeito a ilusão dos idealistas, acho bonito, provavelmente virão comentários enaltecendo candidatos, mas não há salvação possível manipulando peças em um tabuleiro quebrado (existem opções “menos danosas”, ou “menos absurdas”, mas, ainda assim, não são a solução). Eu faço minha parte diariamente, profissionalmente desde 2008, propagando cultura, valorizando a memória artística, incentivando o garimpo intelectual. Faça você também sua parte, desestimulando pensamentos extremistas, celebrando a lucidez, que é, como sempre digo, o antídoto mais eficiente contra o câncer maligno da estupidez.
O sistema político brasileiro só vai mudar, (vale ressaltar) em longo prazo, quando o brasileiro amadurecer sua maneira de pensar (e fazer) política.