O Caso dos Irmãos Naves (1967)
A história real, ocorrida na pequena Araguari (interior de Minas Gerais), da prisão e tortura de Joaquim (Raul Cortez) e Sebastião (Juca de Oliveira) Naves, na época do Estado Novo de Getúlio Vargas. Presos e torturados, com os juízes temendo desafiar a autoridade dos militares, os Naves são obrigados a confessar um crime que não cometeram.
“São Paulo, Sociedade Anônima” costuma ser lembrado como o filme mais importante de Luís Sérgio Person, mas eu considero “O Caso dos Irmãos Naves”, escrito em parceria com Jean-Claude Bernardet, a sua obra-prima, um dos melhores filmes da história do cinema brasileiro. Ao traçar um paralelo entre a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e a dos militares de 1964, o material transcende sua função de denúncia de um erro judiciário grotesco e se torna verdadeiramente atemporal e universal enquanto crítica política.
A opção pela narração em off, recurso problemático em quase todas as produções, surpreende pela eficiência com que é utilizada, integrada na atitude conscientemente didática e à serviço da imagem, que, vale ressaltar, bebe da fonte da montagem soviética nas sequências mais violentas, com a câmera de Oswaldo de Oliveira próxima aos rostos, remetendo à angústia de Maria Falconetti no clássico “A Paixão de Joana D’Arc”, de Dreyer. O foco é o impacto sensorial, especialmente no desfecho, o choque bruto, mais do que apelar para o melodrama, caminho que seria mais óbvio e menos interessante.
A valorização do aspecto humano foi o maior acerto do diretor, apesar da trama, por si só, garantir o interesse do público, ele escalou um elenco magistral. O maior destaque vai para os sempre competentes Raul Cortez e Juca de Oliveira, mas é nos papéis periféricos que pulsa o coração da obra, como Lélia Abramo, que emociona sobremaneira como a sofrida mãe dos jovens, ou a nobreza de John Herbert, que vive o advogado de defesa, dando um show de atuação na forte cena do julgamento, enfrentando sem medo o cruel tenente, belo momento do grande Anselmo Duarte, que, após várias tentativas de desequilibrar psicologicamente o profissional, abandona furioso o local avisando que a situação seria resolvida “na bala”.
O filme é uma corajosa ode apaixonada à justiça. “O Caso dos Irmãos Naves” é obrigatório.
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