Buscando… (Searching… – 2018)
Após uma jovem de 16 anos desaparecer, seu pai David Kim (John Cho) pede ajuda às autoridades locais. Sem sucesso, após 37 horas, David decide invadir o computador de sua filha para procurar pistas que possam levar ao seu paradeiro.
O roteiro evidencia toda a crueldade que é despertada quando situações como esta ganham espaço nas redes sociais, com brincadeiras absurdas, memes de estranhos que culpabilizam o pai da jovem, desprezando o sofrimento que ele está sentindo, a ausência de empatia que domina o mundo moderno.
O filme também aponta o dedo crítico para o oportunismo desavergonhado que transforma a tragédia humana em um espetáculo midiático, simbolizado pela adolescente que, dias antes, ignorava a colega e pouca atenção dava para o processo de investigação, mas que, sem pensar duas vezes, posta um vídeo chorando e afirmando que a menina desaparecida era sua melhor amiga, ou o rapaz que posa de bom moço virtualmente oferecendo ajuda, para o orgulho da avó, ou até mesmo a empresa lutuosa que envia um e-mail oferecendo seus serviços, em suma, seres que são capazes de qualquer coisa por mais “curtidas”, metafóricas e literais.
É revoltante estar inserido em uma sociedade capaz de formar monstros tão insensíveis. Seja o idiotizado que debocha virtualmente do ocorrido, os veículos de comunicação que se utilizam irresponsavelmente do caso com matérias sensacionalistas e exploram ao máximo o interesse mórbido dos abutres, ou o grupo desprovido de empatia que brinca nos comentários sem um mínimo senso de culpa, todos são parte de um sistema que retroalimenta a violência e banaliza a dor.
Esta demonstração clara de hipocrisia tão atual encontra sua melhor representação na brilhante estrutura diegética adotada pelo roteirista/diretor Aneesh Chaganty, nesta genial estreia em longas-metragens, utilizando na narrativa apenas elementos inseridos organicamente na trama, o espectador “enxerga” tudo através de webcams, reportagens televisivas, registros em audiovisual nos notebooks, câmeras de segurança, conversas por IMessage, nunca desviando desta proposta extremamente complexa, conseguindo estabelecer alto grau de suspense sem apelar para as convenções formais do gênero.
Outro mérito valioso da obra é que ela respeita a inteligência do público, o enigma intrigante não é resolvido magicamente com a exposição de elementos que haviam sido propositalmente escondidos, como é usual em produções menos competentes, todas as informações estão lá, você só não havia percebido as pistas, algo que agrega valor à revisão.
Na essência das várias discussões fundamentais que o filme aborda, há espaço generoso para a celebração do valor da família, a necessidade de pais e filhos se comunicarem com carinho, procurando sempre a compreensão das falhas cometidas pelos dois lados. Muitas obras pedantes, envernizadas para aqueles que equivocadamente defendem a existência de “filmes de arte”, tentam alcançar esta grandiosidade, sem sucesso.
Esta pérola do cinema de gênero, tão combatido pelos pseudointelectuais acadêmicos, dá uma aula inestimável. Um dos melhores filmes do ano.
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