Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro (2018)
Um grupo de três youtubers que se dizem especialistas em seres sobrenaturais decidem conquistar o reconhecimento do público de uma vez por todas. Para isso, eles traçam um plano para capturar um ser conhecido por todos, a loira do banheiro.
Fabrício Bittar, Danilo Gentili e André Catarinacho, com “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, brincavam com a essência nonsense e debochada das comédias adolescentes norte-americanas dos anos oitenta, mas, desta feita, eles focam em outra estética que também garantia a diversão da garotada na época em que o politicamente correto ainda não havia destruído o entretenimento televisivo, o “terrir trash”, subgênero que produziu pérolas como “Fome Animal”, “Basquet Case”, “Re-Animator”, “Shakma – A Fúria Assassina”, “O Soro do Mal” e, talvez o melhor de todos, “Evil Dead 2 – Uma Noite Alucinante”, de Sam Raimi. Eu, como apaixonado por horror, fico especialmente feliz por este renovado interesse de nossa ainda frágil indústria pelo gênero, outrora defendido por medalhões como José Mojica Marins e Ivan Cardoso.
Antes de iniciar a análise, preciso salientar que é risível o comportamento de muitos colegas da área, politizando e tentando, de todas as formas, encontrar motivos ideológicos para apedrejar a obra. Utilizar “piadas machistas”, “piadas de mau gosto”, “falta de identidade” e “puerilidade do humor” como argumentos negativos neste caso é dar atestado público de ignorância, uma bobagem que ignora a fonte de inspiração nesta clara homenagem. Aqui o alvo não é o refinamento de John Landis ou Joe Dante, a temática pode até remeter à “Os Caça-Fantasmas”, mas a pegada respeita mesmo é a crueza debochada do Peter Jackson de início de carreira, o jovem que teve a pachorra de produzir algo hilário, inconsequente, deliciosamente irresponsável e insano como “Trash – Náusea Total”. O humor neste sentido é muito eficiente, até mesmo a atuação obviamente limitada de Gentili (que sabe que é um péssimo ator) emula as limitações dos protagonistas dos filmes já citados. É parte da proposta este exagero, não apenas no sangue que é quase um personagem, mas também na entrega do elenco, são variações de tipos adultos infantilizados envolvidos em situações absurdas, aquela caricatura bizarra que honra o canastrão Bruce Campbell, adorado pelos fãs, o “método” de atuação símbolo deste tipo de filme.
Os problemas são praticamente os mesmos do projeto anterior da equipe, falta sintonia fina, como, por exemplo, gags que se repetem demais, ou cenas que tiram sarro e propõem uma autocrítica prévia, só que não integradas organicamente na narrativa, detalhes que são mais perceptíveis no terceiro ato, a consequência natural de um desequilíbrio tonal que já incomoda após os ótimos primeiros trinta minutos. Não é algo que prejudique muito a experiência do espectador médio, tampouco irrita aquele que já está acostumado com as fragilidades técnicas do subgênero, mas denota um pouco de insegurança criativa e trabalha contra a aceitação do resultado pelo público geral.
A qualidade do gore, da maquiagem e dos efeitos visuais, merece destaque, assim como a participação de Murilo Couto, o mais competente em cena, que verdadeiramente compreende a importância do timing no “terrir”. Se você entra na sala escura desprovido de preconceito, entendendo a proposta e buscando diversão, vai sair satisfeito.
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