Nós (Us – 2019)
Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) levam a família para passar um fim de semana na praia e descansar. Eles começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seres com aparências iguais às suas.
O roteirista/diretor Jordan Peele surpreendeu o público com o excelente “Corra!”, sua estreia em 2017, logo, quando anunciou seu segundo projeto, “Nós”, a expectativa foi grande entre os fãs, mas, infelizmente, apesar das boas ideias, há um desequilíbrio tonal evidente que prejudica o ritmo e, por vezes, afasta emocionalmente o espectador da trama. A utilização dos alívios cômicos, correta no anterior, desta feita incomoda e distrai, ao invés de potencializar a tensão subsequente.
Já na primeira cena, o VHS de “C.H.U.D. – A Cidade das Sombras”, pérola esquecida do terror B dos anos 80, aponta o caminho escolhido por Peele, a trama reverencia o clima despretensioso do gênero no período, mas se mostra tímida na execução, com a câmera desviando o “olhar” nas sequências gore, uma das características mais fortes daquelas fitas. Levando em consideração o potencial autoral já demonstrado, esta atitude soa medrosa.
Sem revelar muito, vale destacar que os furos no roteiro são comuns na história do cinema de terror, não são um problema quando o diretor consegue envolver a plateia. Só que demora tanto para o roteiro engrenar, que a diversão passa a ser procurar os erros. A resolução do mistério jamais será satisfatória, porque o processo falhou em divertir, os personagens não são interessantes, o simbolismo de identidade social na reviravolta é tolo, raso, previsível, teria sido melhor manter o enigma e deixar livre a imaginação.
O grande mérito da obra é a presença de Lupita Nyong’o, conseguindo entregar a intensidade do amor materno e a insanidade de seu “lado” mais sombrio.
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