Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame – 2019)

Agora, semanas depois da minha crítica ser publicada (LEIA AQUI), considero válido analisar a obra com algum aprofundamento na trama, afinal, apenas os colegas chatos e amargurados estão ignorando o fenômeno e a eficiência deste filme, que finaliza o arco narrativo iniciado em “Homem de Ferro”, lançado onze anos atrás. O sucesso do projeto em larga escala idealizado pelo produtor Kevin Feige é arrebatador, acaba de ultrapassar “Titanic” nas bilheterias mundiais após doze dias de sua estreia, feito impressionante, especialmente considerando o domínio do streaming.

Um dos pontos mais controversos é a forma como o roteiro trabalha o conceito da viagem no tempo, inclusive, tomando liberdades poéticas com a própria regra que estabelece. Se o gatilho de tudo é um ratinho que aciona o aparelho que traz o Homem-Formiga de volta do reino quântico, brincadeira óbvia com a compra da Marvel pela Disney, não é sensato buscar sentido lógico na trama, não é a proposta da produção.

É fundamental entender que “Ultimato” é, acima de tudo, uma homenagem aos fãs e ao conjunto da obra, pela primeira vez na franquia, decidiram priorizar a emoção genuína, o senso de consequência dramática real, ao invés de dedicar cada minuto à criação de vários núcleos interligados. Esta decisão ganhou o coração até mesmo daqueles que nutriam preconceito, exatamente por brincar com seus próprios absurdos. Ao fazer os personagens reviverem os passos iniciais do estúdio, frequentemente sendo mostrados constrangidos, não há pretensão alguma de soar crível, os atores convidam o público para a festa.

Eu gostei bastante da maneira respeitosa com que fecharam as histórias do Capitão América (Chris Evans) e do Homem de Ferro (Robert Downey Jr.). O primeiro, após ter se sacrificado várias vezes em sua trajetória, finalmente se permite viver o sonho de amor com Peggy (Hayley Atwell), simbolizado pela consumação da tão adiada dança. É brega, claro, mas encantadoramente brega, coerente com a estrutura ingênua de sua origem nos quadrinhos do início da década de 40, o rapaz patriota que, apesar de não se mostrar apto fisicamente, lutou para ser convocado para a guerra. Já o segundo, agregou uma bonita declaração de amor e gratidão do estúdio ao ator, mais responsável pela persona cinematográfica de Tony Stark do que a fonte original, que nunca teve um real momento de destaque.

O carisma de Downey Jr., que se entregou totalmente ao papel outrora como uma bem-vinda segunda chance na vida, após todos os escândalos em que se envolveu pelo vício nas drogas, foi responsável por tudo o que veio depois, nada mais justo que Stark, pouco antes de morrer, escutar de Pepper (Gwyneth Paltrow): “Pode ficar tranquilo, relaxa agora”, como se os executivos dissessem: O MCU está caminhando agora com as próprias pernas, você exerceu com brilhantismo sua função. O espectador emocionado capta a intenção da cena, que segue para o funeral, com a câmera dedicando tempo em cada núcleo pesaroso e a trilha sonora reforçando o tom reverente. O aspecto humano é muito mais impactante que qualquer sequência de ação cheia de efeitos computadorizados.

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A catarse final funciona não somente porque todos os heróis se reúnem contra Thanos (Josh Brolin) e seu exército, isto qualquer animação, videogame, até os quadrinhos mesmo, já entregaram diversas vezes, não era nem algo inesperado, a euforia que toma conta da plateia nas sessões nasce de um simples momento anterior. A esperteza do roteiro consiste em reconhecer a carência da sociedade moderna por valores íntegros, adultos infantilizados procurando heróis em todos os setores, já que o cinismo parece dominar um mundo cada vez menos empático.

Tudo começa com o Capitão se provando digno ao empunhar o martelo de Thor. Ele representa o fã de quadrinhos, o nerd que sofreu bullying na escola, exatamente como Steve Rogers, o inadequado de coração bom. Stark é cool demais, ele é inteligente, genial, mas não representa o nerd, pelo menos, não a versão defendida por Downey Jr. Sozinho, diante de um exército inimigo gigantesco, Steve caminha na direção da morte certa, apertando a alça do escudo quebrado em seu braço. É uma imagem de forte simbolismo. Ao convocar o grupo para a batalha, ele sussurra, não precisa gritar, outro ponto forte que simboliza o respeito que ele conquistou por suas atitudes.

Talvez o subgênero de super-heróis esteja dominando o mercado exatamente porque necessitamos de uma resposta contrária à onda de celebração de valores invertidos.

Reação apaixonada do público às cenas na sala de cinema:



Viva você também este sonho...

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