O senso comum de boa parte da crítica preguiçosa da época e daqueles que ignoram a filmografia de Elvis é afirmar que tudo que veio depois de “Viva Las Vegas” é irrelevante. Uma análise mais dedicada prova que a fórmula apenas se consolidou neste período, garantindo números expressivos nas bilheterias e alguns pontos fora da curva bem curiosos.

Alguns nomes se destacam na produção de “Carrossel de Emoções”, como a renomada Barbara Stanwyck, de “Pacto de Sangue”, “Bola de Fogo” e “Adorável Vagabundo”, entre tantos outros clássicos, que, durante as filmagens, comparava a beleza dele com a de Robert Taylor, um dos homens de sua vida. Ela não conhecia os filmes anteriores dele, mas inicialmente foi seduzida pela possibilidade de participar de um projeto direcionado ao público jovem. Ela ficou encantada com a atitude respeitosa do rapaz e, durante as filmagens, passou a admirar seu talento.

É como se ele, já um pouco cansado dos roteiros que precisava defender (a frustração se refletia no peso que ele precisou perder para o papel), tivesse se inspirado especialmente para fazer bonito diante de uma lenda viva da indústria. O outro nome importante é o do diretor de fotografia Lucien Ballard, aquisição do produtor Hal Wallis que garantia maior refinamento estético, tendo trabalhado em filmes como “O Grande Golpe”, de Stanley Kubrick, e “Meu Pecado foi Nascer”, de Raoul Walsh.

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Carrossel de Emoções (Roustabout – 1964)

Charlie Rogers (Elvis Presley) sonha em ser um cantor famoso. Enquanto a fama não chega, ele circula em sua motocicleta se apresentando em pequenas casas de show. A sua sorte muda quando ele começa a cantar em um modesto parque de diversões gerenciado pela durona Maggie (Barbara Stanwyck).

O personagem de Elvis é apresentado no palco com ecos do revoltado de “King Creole” e “Coração Rebelde”, sem levar desaforo para casa, retrucando os mauricinhos da faculdade e, logo depois, dedicando a eles a irônica “Poison Ivy League” (de Giant/Baum/Kaye), com trechos como: “Os garotos falastrões vão cedo para a cama, antes das provas eles precisam descansar bastante, eles precisam fazer bonito para o papai, eles vão até pagar alguém para passar… E você pode apostar que eles serão os chefes da empresa, enquanto o velho e querido papai for o presidente”. Claro que os rapazes vão buscar briga fora do estabelecimento e, com a utilização do estilizado karatê (uma das paixões do cantor), tudo será resolvido em poucos segundos.

Já que abordei a trilha sonora, vale destacar que, apesar de servir mais à narrativa do que qualquer outra coisa, não é das piores, com pérolas como “Little Egypt” (de Leiber/Stoller), sucesso anos antes pelas mãos do grupo The Coasters, a balada “Big Love, Big Heartache” (Fuller/Morris/Hendrix), a roqueira “One Track Heart” (de Giant/Baum/Kaye) e a suingada “Hard Knocks” (Joy Byers). Há rumores de que a simpática “It’s a Wonderful World” (Tepper/Bennett), cantada por Elvis em um passeio romântico na roda-gigante com Joan Freeman, quase foi indicada para o Oscar.

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O diretor John Rich, veterano da televisão, que tinha no currículo episódios de “Além da Imaginação” e “Bat Masterson”, não aliviou para o cantor, o clima não era amistoso entre os dois, muito de seu temperamento pode ser percebido na entrega séria, focada, de todo o elenco. Na primeira versão do roteiro, o lado encrenqueiro do protagonista era mais proeminente, uma pegada mais próxima dos tipos que ele viveu na década de 50, algo que infelizmente foi tolhido pelo produtor.

Durante as filmagens, uma matéria de jornal incomodou o cantor, “Você acredita que Richard Burton e Peter O’Toole devem parte do sucesso ao Elvis Presley?” Sem o lucro advindo das fitas leves do astro, Wallis não teria como financiar o prestigiado “Becket”, que estava recebendo críticas positivas no mundo todo. Wallis preferiu não se arriscar com aquilo que enxergava como apenas um meio lucrativo para conseguir financiar obras mais “artísticas”, com potencial em premiações, visão que magoou Elvis e estremeceu a parceria, que duraria apenas mais dois projetos, “No Paraíso do Havaí” e “Meu Tesouro é Você”.

Uma passagem engraçada dos bastidores envolve uma discussão entre Elvis e um dos produtores, sobre a utilização dos Jordanaires, grupo vocal que acompanhava o cantor desde o início, na gravação de “Wheels on My Heels” (Tepper/Bennett). O caso é que a cena mostraria o protagonista sozinho atravessando a estrada à toda velocidade em sua motocicleta. Um dos executivos teve a genial ideia de utilizar como argumento negativo o fato de que não havia espaço na garupa para o grupo, no que Elvis, compreensivelmente irritado, contra-atacou afirmando que eles provavelmente estariam socados no mesmo lugar que a banda.

O roteiro de Anthony Lawrence e Allan Weiss foi indicado para o prêmio de Melhor Musical, na Associação de Roteiristas. O disco com a trilha sonora conquistou o primeiro lugar, feito que só seria repetido por Elvis após abandonar o cinema. “Carrossel de Emoções” sobreviveu bem ao duro teste do tempo, merece ser redescoberto pelas novas gerações.

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Viva você também este sonho...

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